quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A morte e a vida



O final da tarde de ontem, é à Helena Sacadura Cabral que tenho que o agradecer. Porque foi o que ela escrevera há dias no seu blogue que me fez ir até à Universidade Católica. Para assistir ao lançamento de um livro que reúne cinco textos de Cicely Saunders, a pioneira do movimento moderno dos cuidados paliativos. Com duas aliciantes: a apresentação de Isabel Galriça Neto, que admiro muito e cujo filho, Francisco, traduz a obra (Watch with me no original) e do Padre Tolentino de Mendonça. Razões mais do que suficientes para valerem a deslocação.
Mas não só. Tal como dizia a Helena no seu post, esta é uma causa da maior importância, que nos implica a todos. Ainda bem que fui. Porque fiquei a saber mais sobre este assunto e, sobretudo, porque me emocionei com o discurso de ambos, feito com simplicidade, rigor e sentimento.
Mais do que a apresentação de um livro, aquela hora em que estivemos juntos foi uma partilha e uma reflexão conjunta sobre a vida e a morte, sobre a vulnerabilidade do fim de um caminho, visto não como uma derrota, mas como a possibilidade e o direito de viver tão intensamente quanto possível até ao fim, celebrando a vida.
Dizia o Padre Tolentino de Mendonça "Sabemos tantas coisas úteis e inúteis. E ninguém nos ensina a morrer". É que a morte é, na sociedade moderna, um tabu, uma ideia que tentamos afastar de nós, como se ao não pensar nisso evitássemos que acontecesse. E depois, o magnífico e comovente testemunho dos momentos finais de vida do seu pai, de quando lhe pegava na mão e, em passinhos muito pequeninos, o levava até a uma janela do hospital, de onde se via o mundo. Naquele altura, dizia, "ele era simultaneamente meu pai e meu filho, mas a sua mão era, e ainda é, maior que a minha".
Foi mais ou menos com estas palavras que o Padre Tolentino terminou, de uma forma que me tocou muito especialmente, talvez porque, todos os Domingos, quando estou com a minha mãe, é também um pouco isso que sinto; quando lhe pego na mão e esse contacto silencioso com a mão que me ensinou a vida diz tanto do que não chega às palavras; e é uma forma de a amparar e de enfrentar a morte. E de a encarar com a maior naturalidade de que sou (somos) capaz(es). Ontem, tomei consciência do que de certo modo já sentia no coração: que aceitar a morte, por mais difícil que seja, é também aprender muito acerca da vida.

4 comentários:

  1. Amiga
    Permiti-me reproduzir o seu belíssimo texto no meu blogue. Gostei muito de a conhecer!
    Um abraço

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    1. Helena:
      É uma honra e um prazer. Retribuo o abraço e agradeço-lhe uma vez mais, agora publicamente.
      Isabel

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  2. Um gosto ter conhecido o seu blogue. Gostaria de ter assistido, mas foi
    bom ler o seu texto.
    Voltarei sempre que possa.
    Saudações
    Irene Alves

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    1. Obrigada Irene. Volte quando puder e quando quiser, que será sempre bem-vinda!
      Um beijinho
      Isabel

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