quinta-feira, 26 de junho de 2014

Os estragos do tempo...



Agora, muitas vezes, quando a olho e vejo nela uma sombra do que já foi, penso em quantas histórias encerram estes 89 anos, dos quais conheço tão bem as fortalezas e as fragilidades. E lembro-me, inevitavelmente, de Jacques Brel e das palavras tão certeiras de Les Vieux, sobre os estragos do tempo e um mundo que, com o passar dos anos, se vai tornando cada vez mais curto e limitado.
(...)
Les vieux ne bougent plus,
leurs gestes ont trop de rides
leur monde est trop petit
du lit à la fenêtre,
puis du lit au fauteuil
et puis du lit au lit...
ou
Les vieux ne parlent plus
ou alors seulement
parfois du bout des yeux...
ou ainda
On vit tous en province
quand on vit trop longtemps...

Há momentos em que a sua inconfundível gargalhada, a transparência verde do seu olhar, ou a alegria genuína que sempre a caracterizou, me trazem de volta pequenos pedaços de um passado que já não existe. Mas é no toque da pele, quando aperto a sua mão na minha, que sinto, na verdade, que só o nosso amor não muda.


4 comentários:

  1. Boa noite, Isabel.
    Realmente quando nos damos conta do que o passar do tempo faz a um corpo, e ao ser que nele habita, vem a incredulidade.
    Embora haja boas exceções, é certo que no lugar duma vida a saltitar, encontra-se agora um arrastar de articulações desgastadas, e no lugar duma pele rija e radiante, encontra-se um emaranhado de rugas que não conseguem, no entanto, sufocar a sede de vida que encerram, e que ainda luta pelo seu lugar ao sol, nem que seja um sol que lhe entre através da janela do quarto.
    Um bjo amigo

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    1. É difícil no fundo aceitar ver uma pessoa ir-se "apagando", mas há que saber aceitá-lo com a naturalidade possível e adaptar-se a uma outra realidade.
      Um beijinho também para si

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  2. Temos uma dificuldade natural em aceitar a evolução da vida. É sempre assim, especialmente quando há amor. Porém, a única hipótese que conheço é essa aceitação, para felicidade de ambas as partes. O passado é todo vosso, ninguém o apagou...

    Um beijinho Isabel. Bom fim de semana.

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    1. É tal e qual como diz CF!
      E apesar de poder haver no post uma certa nostalgia, é em alegria que vivo a realidade actual (essa alegria que a minha mãe sempre me ensinou com o seu exemplo) e tento aproveitar ao máximo o tempo de estarmos juntas.

      Beijinho. Bom fim de semana também e até já. - como dizem os espanhóis "nos vemos" ;)

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