quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Fraqueza e força



Era um amor antigo, que surgira repentino  e inevitável como quase sempre acontece e que o tempo só fortalecera,  na certeza serena e terna de se terem um ao outro mesmo quando tudo parecia dizer não, e depois fora corroendo muito devagar, até chegar ao ponto de já não saberem se fazia ainda sentido, ou se havia alguma coisa que os unia para além de um passado comum, com memórias boas e outras más.
Entregara-se-lhe inteira, na rendição de corpo e alma que deixara neles a marca definitiva dos amores sem limite nem  pressa que se acredita serem para a vida inteira, e que tornam os dias mais luminosos e mais bonitos.
Mas quando tudo parecia perdido, nas noites de maior solidão e desamparo, quando sentia precisar de colo e de mimo, recordava às vezes o primeiro beijo e o primeiro toque, naquela noite já muito distante que fora a primeira de muitas noites boas. E queria voltar à emoção de outrora, que sabia irrepetível, porque o tempo não volta para trás. E vinha a nostalgia do calor do seu corpo, do conforto do seu abraço silencioso, o sabor dos beijos demorados e uma saudade doce e magoada dos instantes mágicos de vontades e corpos em sintonia, tudo só desejo e tempo infinito.
No fundo sabia que, mesmo em momentos assim, sem  o constante alvoroço do  quotidiano e com as emoções todas à solta, em que parecia só haver fragilidade e desencanto, e queria tudo e nada ao mesmo tempo, era na verdade e na profundidade  dos afectos que sempre haveria de acreditar.
E era então que lhe nascia também a vontade de o apertar nos braços outra vez, de o olhar no fundo dos olhos, e de lhe dizer simplesmente a falta que lhe fazia.
  

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