sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Canções da minha vida (IV)


Depois de muitos anos de ginástica rítmica e outros tipos de exercício que eram quase mais dever do que prazer eu, que nunca fora grande amante de discotecas, descobri os encantos da dança.
Experimentei várias: das latinas às orientais, da salsa ao sapateado; até me apaixonar pelo flamenco. Não sei explicar. Há naquele som ritmado de pés a bater no chão, no voltear das saias e na garra dos movimentos um singular arrebatamento que me comove e arrepia, e se me entranha no corpo e na alma.
As sevilhanas, primeiro, e o flamenco, depois, foram como uma revelação cuja descoberta me modificou e modificou a minha vida, também. Porque conheci um lado de mim que não me fora até então revelado, porque encontrei um equilíbrio e uma serenidade que deram um vigor novo aos meus dias, que trouxe à flor da pele o meu lado mais emocional, que me permitiu conhecer-me melhor e assumir-me como sou, sem vergonha de nada, aprendendo devagar a soltar-me e a ser mais "eu".
Mas foi ainda mais que isso: por causa do flamenco descobri  uma cultura, um país e um povo com o qual me identifico na sua contagiante alegria de viver, fiz muitos amigos novos e conheci pessoas extraordinárias, umas portuguesas, outras espanholas.
Não interessa que tenha começado tarde, pois nunca tive nenhum tipo de preocupação ou pretensão artística. Por isso pouco me importa se não tenho a postura mais adequada, a técnica perfeita, ou um desempenho brilhante.
O que sei é que o flamenco mudou a minha vida; e hoje, mesmo sem ter aulas, faz ainda parte dela; e continuo a emocionar-me todas as vezes que vejo ou ouço a guitarra, as palmas e os pés a compasso, e a voz e o corpo a explodir repentina, torrencial e incontidamente, em desmedida entrega.

(Esta canção e todas as de Rafael del Estad trazem-me boas memórias das primeiras aulas de sevilhanas, quando achava que nunca na vida haveria de ser capaz de as aprender, mas ainda assim me divertia loucamente).

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