sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Mais do mesmo


De tudo o que li e ouvi sobre o debate de que toda a gente fala  - e em particular os órgãos de comunicação social -, o que mais gostei foi o texto de opinião de Alberto Gonçalves, no DN de ontem. 
Diz isto:
Antes de cada debate político, a "inteligência" exige que se discuta as questões que interessam às pessoas. Após cada debate político, a "inteligência" lamenta que não se tenha discutido tais questões, aliás vagas e dependentes da vontade do freguês. Pelo meio, há fatalmente o tal debate, e desde tempos imemoriais ou, para ser exacto, desde 1960 que se sabe que o resultado do mesmo não está sujeito à firmeza dos argumentos ou a qualquer outro critério racional: ganha o debate quem, graças ao aspecto, à postura e, vá lá, à retórica, pareça tê-lo ganho. Sobretudo o mais frequente é que, à conta desses factores ou de uma extraordinária gafe, alguém o perca. No confronto entre Pedro Passos Coelho e António Costa, não houve derrotados evidentes. Não aconteceram calamidades. Nenhum dos candidatos foi especialmente encantador, nenhum é exageradamente repulsivo. Passos Coelho mostrou--se mais sincero (ou hesitante?), Costa mais frontal (ou plástico?). Nervosos estavam ambos, embora não em demasia. Passos Coelho delirou com alguns indicadores simpáticos. Repetiu eufemismos (ex.: "mistificação" em vez de "mentira"). Explicou-se razoavelmente, sendo, porém, incapaz de entusiasmar um corso carnavalesco. O Dr. Costa tropeçou tipicamente em metade das palavras e em dois terços das sílabas. Apresentou gráficos indecifráveis em televisão. Incorreu em sucessivas "mistificações" (a dívida da CML, de facto "reduzida" através da venda de terrenos ao Estado; ou o falso "corte" dos 600 milhões na Segurança Social). Descontada a coreografia, o que sobra? Satisfeito com o precário êxito, Passos Coelho dá a ideia de não levar o futuro em consideração. Comprometido à força com o abismo "socrático", Costa é apenas passado. Um quis dirigir a conversa para os governos de José Sócrates (com relativo sucesso) e para a Grécia (nem tanto). O outro para a austeridade. Ignoro o que assusta maior quantidade de eleitores. Isto sobre o conteúdo (?). Sobre o invólucro, roçou o insuportável, agravado por três moderadores empenhados em impedir cinco frases seguidas. Em suma, o debate não esclareceu o que interessa às pessoas. Calha bem, já que suspeito que as pessoas também não se interessaram pelo debate, cuja vitória, diga-se, a "inteligência" atribuiu a Costa. Mas esse particular triunfo fora decidido à partida.
É que, também eu, se tivesse que definir este debate numa palavra, diria apenas isto: desinteressante.

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