segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Um ano depois


Passou um ano em que a nossa vida mudou muito. Nunca guardo muitas recordações dos dias maus e, por isso, são difusas as minhas lembranças desse dia 7 - um dia de que eu gosto tanto!... Não sei bem o que senti ou pensei, o que disse, o que fiz.
Sei apenas que esse nosso Domingo foi muito diferente de todos os outros. E que havia sol, embora nem dessemos por isso. Recordo vagamente a ambulância a apitar, correndo desenfreada, subindo e descendo ruas que eu não conseguia ver, e finalmente o destino, que me pareceu situado no fim do mundo.
Depois, foi um mês inteirinho de incerteza e angústias, de sofrimento e solidão, que nenhum abraço ou palavra podiam atenuar. E foi assim, no meio desta inquietação com o que viria a seguir, que chegou o Natal, vivido em silêncio, no calor das mãos apertadas a contrastar com o ambiente frio de um quarto de hospital.
Entretanto passou o tempo e, devagar, um dia de cada vez, tivemos que nos habituar a novas realidades e aprender a viver com elas, na tranquilidade possível. Não imagino o que pensas e sentes nesse mundo quieto e sem palavras em que vives agora, mas gosto de te ter ainda do lado de cá da vida, de te contar as minhas histórias sem saber se as ouves, se as percebes, se reconheces a minha voz e o meu riso, se ainda sabes quem eu sou; gosto de te ver agarrada à vida, mesmo se são frágeis os fios que te prendem a ela, e se me pergunto muitas vezes se viver assim ainda é viver.
Mas é quando me olhas com os teus magníficos olhos verdes, quase sempre tranquilos, ou  às vezes sombrios, quando muito raramente me sorris ao ver-me chegar, quando passas a mão na minha cara e tentas dizer-me palavras que eu não compreendo, que percebo que tudo se inverte na nossa forma de existir, e que tal e qual como quando eu ainda não chegava às palavras  são agora as palavras que já não chegam a ti; e é então que tenho a certeza que, manifestando-se em presença e mimos, pelos olhos e pelo toque, como no princípio, o nosso amor permanece igual, ou até, talvez, mais forte ainda.

6 comentários:

  1. Que comentar?...Difícil.

    Forte abraço, Isabel.

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  2. Belíssimo texto. E tocante amor esse que liga esta Mãe à sua Filha. Ainda há quem assim seja, graças a Deus!

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    1. É um amor único e fortíssimo, sem dúvida. E tudo o que eu faça, parece-me ficar sempre aquém do ela foi como mãe.

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  3. Que mensagem de amor tão comovente. Feliz a mãe que tem uma filha com este amor tão bonito perto dela.

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    1. Se a conhecesse, Helena, compreendia melhor. Sou suspeita, claro, mas ela foi sempre uma mãe extraordinária. E sempre nos entendemos bem, apesar de termos discordado muitas vezes, em muita coisa. Mas o amor é mesmo assim...

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