sábado, 1 de abril de 2017

Mês de Abril


Gosto muito deste quarto mês do ano, que é o primeiro mês completo de Primavera, e da sua intrínseca instabilidade, que faz alternar o sol e a chuva, o calor dos dias a prometer Verão e as noites frescas a reclamar ainda agasalho, recato e aconchego. 
Gosto da euforia contida dos dias azuis que crescem e aquecem devagar, de soltar o cabelo na brisa da tarde e de o sentir esvoaçar suavemente à volta da cara, em leves carícias que me fazem fantasiar outras meiguices e antecipar a concretização de desejos escondidos, ou mesmo ignorados.
Dizem que este mês cujo nome vem do latim aprilis, que significa abrir, seria, segundo o poeta latino Ovídio, dedicado a Vénus. Gosto por isso e por tudo o mais de o imaginar aberto ao amor e a novos começos. Porque Abril é um tempo de sensualidades à tona e de corpos que se enlaçam em despudor festivo, consonante com a natureza a rebentar de vida.
Gosto da sonoridade da palavra Abril, como da que têm todas as palavras terminadas em -l (Abril, Isabel) e da plácida inquietação dos sentimentos antagónicos e incertos, de todas as memórias e anseios que Abril traz consigo, de contemplar extasiada a beleza das flores, o voo dos pássaros, ou dançar alegremente ao som de uma música qualquer. De caminhar descalça na areia molhada e vazia das primeiras manhãs de praia, de me sentar em descarado e preguiçoso abandono e deixar o calor penetrar-me na pele, enquanto admiro o brilho do sol reflectido no rio que corre indiferente e implacável, como o tempo.

(texto reeditado)

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