quarta-feira, 31 de maio de 2017

Incomparável


Muitos dias e anos depois daquele arrepio sentido desde o primeiro instante como uma inevitabilidade que o tempo fora confirmando devagar, na distância que separou o primeiro olhar do primeiro toque, e depois cresceu no desejo que não pôde refrear-se, no corpo a estremecer, primeiro, e a explodir, depois, e do tempo em que esquecidos de tudo se entregavam ao prazer e se demoravam juntos; e eram um do outro sem ser; e estavam perto mesmo quando estavam longe; e se encantavam com a certeza de se terem um ao outro e de se conhecerem de cor e não poderem  nunca separar-se ou esquecer-se, nem sequer em momentos de dor e de desânimo, ainda havia muitos dias em que, apesar das marcas e histórias que os anos tinham trazido também às suas vidas, se perdiam no fundo dos olhos um do outro e se emocionavam e enterneciam com o  afecto, amor, ou o que quer que fosse que se lhes tinha atado ao peito para sempre. Era então que na cabeça e no peito dela soava de novo a voz pausada e grave de Caetano:

Você é meu caminho, meu vinho,
Meu vício
Desde o início estava você
Meu bálsamo benigno,
Meu signo, meu guru
Porto seguro onde eu vou ter...

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