sexta-feira, 26 de maio de 2017

Rocío, sempre Rocío


Por estes dias, voltam a encher-se de gente os caminhos de pó, voltam os cavalos e as carroças, o som conjugado da flauta e do tamboril, as flores e os vestidos de flamenca, a guitarra, os vivas e os olés; e as sevillanas dia e noite, a salve rociera repetida mil vezes em emotivos coros de sentimentos, abraços e lágrimas despudoradas, que não podem nem querem conter-se. E os sinos a tocar incessantemente, entre foguetes e palmas, e risos, e vozes, e silêncios.
Há uma inexplicável magia nesta festa excessiva e singular, que se vive no alheamento do mundo, que só quem a experimenta pode compreender, que se sente na pele e no mais fundo da alma, que mexe connosco e nos transforma para sempre.
O Rocío é a mistura de muita coisa: é um lugar encantado, especialíssimo, de emoções à flor da pele, de genuína celebração da fé ou mero encontro de amigos, da paz quieta da marisma, ou do alvoroço imparável e inebriante daquela euforia que faz parecer a vida revelar-se-nos em plenitude e em graça, emoção pura, força renovada.
Ainda me lembro muito bem de quando fui pela primeira vez à Romería, no ano 2000. E de como foi tão forte o impacto que provocou em mim; de como aquele momento de alegria  e interioridade extremas e simultâneas foi para mim uma espécie de revelação, qualquer coisa que até aí desconhecia pelo menos daquela maneira tão forte e tão funda; de como senti que se fortalecia ali a minha fé. E me (lhe) prometi, como nos ensinam os almonteños, que "siempre que pudiera yo tenía que ir a verla". E fui. Muitas vezes. Na festa e fora dela. Mas não tantas como gostaria, ou como acho, às vezes, que necessito.
Hoje, sinto e sei que a Virgen del Rocío me acompanha e me protege, assim como a todos aqueles por quem lhe rezo. E, por mais estranho que pareça, identifico-me bem mais com esta maneira festiva de viver a fé, que conjuga alegria, espiritualidade e partilha (à espanhola, pois claro), do que com a nossa maneira bem mais lamurienta e arrastada, que respeito mas não me toca.
Por estes dias, e até que acabe a festa, o meu coração estará pois sempre por lá, mesmo se fico cá; e acompanho tudo à distância; e trago o coração e a cabeça cheios de uma nostalgia triste e boa, na certeza absoluta que era ali que eu tinha que estar.


2 comentários:

  1. Este seu texto diz tudo do que é aquela romaria, só quem por lá passa sente força daquelas gentes, da fé tão aliada à alegria, à festa de viver, de partilhar sentimentos, abraços, companheirismo, também a mim me toca muito estes dias, não vou lá agora, mas tenho sempre a virgem no meu coração e asua medalha ao peito nestes dias, mas vou lá no dia 15 de Junho.

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    1. Eu bem que queria ir, mas não vou à Romaria (já não vou desde 2014) e não tenho prevista nenhuma ida para breve, mas a vontade tenho sempre. :)

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