Ainda a propósito da discussão da "Petição pela desvinculação de Portugal do Acordo Ortográfico de 1990", que terá lugar dentro de três dias, a 28 de Fevereiro, na Assembleia da República, e à qual estranhamente (ou talvez não) a comunicação social quase não se refere, mas que suscitou ontem um post de HSC no seu "Fio de Prumo", o Público de hoje traz um texto de Maria Alzira Seixo, professora da Faculdade de Letras de Lisboa, que vale a pena ler e do qual transcrevo apenas um excerto.
E porque este é um assunto que diz respeito ao país inteiro e não apenas aos especialistas da área, com implicações e consequência na vida de todos nós, aconselho a leitura integral do artigo, aqui. É que esta é, acima de tudo, uma questão de patriotismo e, como tão bem diz o texto ainda é tempo, ou citando Fernando Pessoa, é a Hora!
(...) As palavras são manancial de riqueza: juntam a criatividade de "crescer" em diversos sentidos, a partir das suas raízes fortes, em lógica de desenvolvimento que é tanto delas mesmas como dos que as usam, quando respeitam o seu étimo. E reúnem-se na família vocabular que é a Língua. (...) Ora já sabemos como o chamado Acordo Ortográfico as veio maltratar, como as cortou das raízes da sua proveniência, como lhes decepou ligações de vizinhança com línguas europeias (...) o Acordo Ortográfico desfigura a linguagem: desmembra famílias de palavras, estraçalha vocábulos (que parecem outros com os quais os falantes os confundem), isola termos que ficam lexicalmente à deriva, num oceano de incongruências, arbitrariedades, confusões, deslocalização do sentido original, que já não é possível perceber para se atinar de imediato com o sentido. Um desatino!
Ficámos aleijados a escrever em português. Por determinação da lei que impôs o Acordo Ortográfico como medida política de aproximação com os países de língua oficial portuguesa. Os quais, afinal, enjeitam tal medida, pois não o adoptaram! E aleijados também porque porque ninguém entre nós sabe escrever segundo o Acordo, tão impossível de fixar ele é, ilógico nas suas regras, infinidade de excepções e hipóteses de escrita múltipla. (...)
Não vale a pena exibir mais agravos do Acordo Ortográfico: as críticas que lhe têm sido feitas chegam e sobejam para entendermos o seu alcance de danificação, em expressão e raciocínio, a curto prazo (e já actual!), no falante luso. E as implicações a vir na descida do nosso nível cultural, profissional e económico, no futuro. É uma amputação! Quem aprovou a lei não o supunha, talvez. Embora tenha havido claros pareceres e advertências, na altura devida - e os responsáveis fizeram, no sentido mais próprio, ouvidos de mercador.
Mas ainda é tempo! A Assembleia da República que aprovou esse instrumento de atraso mental não é hoje a mesma, e os que nela permanecem, do grupo anterior, tiveram entretanto ensejo de reflectir, de compreender. Tenhamos esperança! Os portugueses que formam esta AR podem mostrar-se cidadãos responsáveis, que não querem depender, durante o resto da vida, de conversores automáticos colocados em computadores, os quais ainda por cima erram na aplicação do próprio Acordo, e o resultado é que não se fica a escrever nem em Português nem na ortografia imposta, escreve-se em língua que não existe, não é a da lei, nem a usual! Os deputados não serão indiferentes à ideia de seus filhos e netos, e todos os portugueses, se tornarem deficientes linguísticos ad aeternum, com os custos que isso acarretará, em atraso e marginalidade decorrente, para Portugal.
Pronto, pronto, já ouvimos a versão de uma pessoa letrada nas letras. Juro que não é para ser do contra, mas permita-me que agora oiça a versão de uma (ignorante) pessoa cuja vocação se encontra mais voltada para outras áreas de estudo.
ResponderEliminarSegundo o que vejo, o texto citado apresenta 2259 caracteres num total de 431 palavras. Caso tivesse sido escrito segundo o AO as mesmíssimas palavras, escritas pela mesmíssima ordem, a excepção estaria na não utilização de 4 caracteres, ou seja em vez dos 2259 teria uma “amputação” para os 2255, cerca de 1 por cada... vá 560 mais ou menos... cerca de 0,18% (é uma forma de raciocínio alternativo: números...), a saber: ado(p)taram, exce(p)ções, a(c)tual, refle(c)tir; ou seja, dois 'p' e dois 'c' de diferença. Mas pelo que percebi, exactamente os dois 'p' e dois 'c', que fazem toda a diferença entre um “manancial de riqueza” e o “atraso menta”. Que vão ser responsáveis por um aumento significativo da “marginalidade decorrente”, “descida do nosso nível cultural, profissional e económico”… Estou impressionado: as próximas gerações serão mais pobres e terão menos capacidades intelectuais.
Eu não sou especialista na matéria, mas se esta é a tal capacidade mágica de argumentação e de raciocínio superior que se obtém por escrever mais dois 'p' e dois 'c', confesso que fico com algumas dúvidas… Para se discutir estas coisas julgo que seria melhor apresentar dados objectivos (factos) e não teorias de que vamos ter mais marginais daqui para a frente por causa do AO. Por exemplo eu que não sou especialista no tema não consigo perceber o problema do AO afinal qual é o problema de se deixarem de escrever meia dúzia de letras que ainda por cima não tem leitura? É semelhante à alteração de pharmacia/farmácia, logo qual é o drama? Porque vamos passar a ter mais marginais? LOL...
Outra questão: a utilização de "conversores automáticos" serve basicamente para ajudar a corrigir gralhas, não para ensinar a escrever ou raciocinar. Por exemplo quando meti o texto no processador de texto para contar as palavras ele deu-me "desmebra", como erro.
Sérgio: respondo-lhe sucintamente. O AO não se limita, como quase toda a gente julga, a suprimir consoantes mudas, ainda que os "mais papistas que o Papa" suprimam agora todas (sonoras também), como "facto".
EliminarMas ainda que fosse só isso, não lhe parece grave que não se respeite a etimologia e que se escreva, por exemplo, "Egito" e "egípcío"? As próximas gerações só não serão mais pobres culturalmente e intelectualmente porque já o são. Porque hoje o caos já está instalado, com registo que misturam a ortografia pré e pós acordo e uma miscelânia que não é coisa nenhuma. O aviltamento da língua significa pensar menos e pior, sim, Sérgio, porque o pensamento é linguagem.
E como não tenho tempo de prosseguir, deixo-lhe apenas uma sugestão: Leia, com muita atenção, um livro de Pedro Correia chamado "Vogais e Consoantes Politicamente Incorrectas do Acordo Ortográfico" e acho que vai perceber melhor o que queremos dizer, nós, os que somos completamente contra esta aberração.
É a Hora!!... Isabel, partilhei no FB para que o maior número de pessoas se aperceba do que está a acontecer. Todos deviam ler o livro de Pedro Correia.
ResponderEliminarBeijinho :)
Fez muito bem, Teresa! Obrigada. De facto todas as pessoas têm que ter consciência de como isto é importante.
EliminarEu fiz pior: mandei o texto da Maria Alzira, por mail, para os grupos parlamentares. Têm que ouvir quem sabe! Se calhar não lhe vão ligar nenhuma, mas temos que fazer o que está ao nosso alcance. ;)
Tem razão quanto ao livro do Pedro. Ele é fundamental e, sobretudo, muito esclarecedor.
Beijinho para si também, Teresa.
Oxalá se resolva de vez. É uma enorme confusão! Eu que me gabava de não dar um único erro ortográfico, hoje já não o faço... devido ao AO. Ainda bem que não estou a dar aulas. Beijinho, Isabel
ResponderEliminarEra bom, sim, Maria ´Vitória! (seja bem-(re)aparecida cá por casa...) ;)
EliminarEu resisto. Não utilizo o AO.
Beijinho
Já se escreveu bastante, talvez demasiado, sobre a questão.
ResponderEliminarA minha posição é a de um rotundo NÃO ao Acordo Ortográfico.
Uma curiosidade: com a mais que provável adesão da Guiné Equatorial aos PALOP - é uma questão de tempo - como irá aquele país aplicar o AO se lá não se fala português?
Porque um dos princípios dos PALOP é adoptar o mesmo. O que não se verifica na prática mas, como diz a outra, isso agora não interessa nada.
Beijinho, Isabel.
Justamente, António, eu acho que tudo o que já se disse e escreveu ainda é pouco.
EliminarHoje há pouca gente a favor do AO, mas há um grande número de indiferentes, para os quais tudo tanto lhes faz. E é para esses que vale a pena continuar a falar. Para que entendam o alcance e a gravidade da questão.
Os PALOP não estão a utilizar o AO.
Beijinho
Minha querida Isabel eu vou resistir enquanto possa. Vai sair mais um livro meu com a escrita anti acordo. Qualquer dia sou banida das livrarias...
ResponderEliminarTambém eu, Helena! Na verdade, acho que ainda somos muitos, os que resistimos.
EliminarQuanto ao seu novo livro, boa notícia! :))
Beijinho