segunda-feira, 19 de maio de 2014

O que eu leio por aí...

 
Não o escondo: são poucos, muito poucos, os "meus blogues". Porque nisto, como em tantas outras coisas, prefiro a qualidade. Por isso, muito do que existe no mundo virtual me passa ao lado. E ainda bem. Nada de "pipocas", nem de "cócós", portanto. É que, mesmo correndo o risco de perder coisas muito boas, prefiro limitar-me ao que me interessa e tem para mim significado, aquilo com que me identifico ou deleito, o que me emociona e faz pensar, umas vezes concordando e outras não.
Há os blogues que me encantam e me fazem sentir bem, pelos quais passo todos os dias, e de que me aproprio até, em parte, e guardo comigo, e "trago para casa", replicando-os tantas vezes por aqui: é o caso das fotografias do Paulo e do mfc, na comoção do que despertam em mim, ou dos textos do Pedro, do Adolfo, da Helena, quando conseguem pôr em palavras o que eu sinto e não sei dizer assim. 
Hoje, encontrei no Delito de Opinião mais um texto que me tocou. 
É este: 
Elogio da solidão 

por Rui Herbon, em 18.05.14 
Neste mundo obsessivamente interconectado, onde é mais fácil comunicar com alguém em Tombuctu que falar com o vizinho do lado, o mais difícil de tudo é comunicar consigo mesmo. Schopenhauer colocava-o assim: «A solidão é a sorte de todos os grandes espíritos». Mas, mais que sorte, é uma aprendizagem, uma auto-exigência e, talvez, uma valentia. No fundo não estranho que tenhamos pânico da solidão, como o temos também do silêncio, porque ambos nos resgatam do ruído quotidiano, desmontam os subterfúgios que pacientemente havíamos construído, e devolvem-nos sem piedade ao essencial. Inclusive incitam-nos a fazer perguntas. E nestes tempo onde o surfing da vida triunfa em todos os aspectos — comida rápida, relações rápidas, conversas rápidas —, a ideia de estar só consigo é quase revolucionária. Falo evidentemente da solidão criativa, escolhida e procurada entre o ruído quotidiano. A outra, a daquelas pessoas que ficaram sós, amiúde em idades avançadas, é outra história. Nesse caso não se trata de uma respiração que insufla a alma, mas de viver com a sensação de abandono. O que, estranhamente, é uma consequência mais desta sociedade de tanta gente junta e ligada que contudo está a perder a capacidade de falar. Este tipo de solidão, sem dúvida nenhuma, não tem nada de criativo e tem tudo de doloroso. Mas a outra solidão, a que é capaz de conviver e construir caminhos partilhados, que não está vazia de gente, mas muito cheia, que não foge, mas que busca e encontra, essa solidão devia ser uma reivindicação diária, uma auto-exigência, um prazer concedido. Pouco a pouco vamos perdendo essa capacidade de recolher-nos em nós, seja para ler um livro ou ouvir um disco, ou simplesmente para observar a vida. E perdemo-la porque é mais fácil vivermos rodeados de ruído humano, ainda que tenhamos esquecido a gramática para entender a linguagem. No fundo creio que somos uma sociedade assustada e frágil, e que preferimos colocar-nos apenas as perguntas certas para não vislumbrarmos o abismo interior pelo qual derrapamos. Por isso educar é também ensinar a parar o tempo, despojar-se dos disfarces, ficar só com as próprias interrogações e aprender a gostar de si. Essa solidão conquistada é, no fundo, a conquista de si mesmo

Detenho-me na última frase. E porque hoje começam os exames, e porque ultimamente tenho pensado ainda mais em educação e no que importa fazer para ir mudando tanto que há nela de errado, acho que é primordial insistir no que defendo há muito: menos tecnologias e aquela expressão que eu detesto do "saber fazer" e centrarmo-nos, sobretudo, em ensinar a pensar. Porque quem sabe pensar, saberá fazer. O contrário é que pode não ser verdade. E só assim a escola cumprirá o seu papel essencial: o de ensinar a questionar(se). 

Nota: O sublinhado do texto é da minha inteira responsabilidade. 

(Fotografia de mfc, do blogue Pé-de-Meia)

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