sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Ternura



Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira

Hoje, agora, em total desarmonia com uma tarde agreste de Outono,  despedindo-se  impiedoso  e violento,  é só ternura que me enche o coração.
E, sempre que digo, penso, ou sinto ternura, é este poema, lindo, que eu adoro, que me vem à cabeça.
Mas, hoje, quero dar-to! Porque, repetindo O'Neill, também eu "tropeço de ternura por ti."

4 comentários:


  1. Foi meu professor na FLUL. Era um poeta extraordinário.

    Ainda bem que sente essa ternura por alguém....

    Bjinho

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  2. Não foi meu professor, mas também tive três ou quatro inesquecíveis aulas com ele na Faculdade de Letras.
    E, como poeta, é um dos meus preferidos. É dele o poema "A Ilha", o meu preferido :)

    Beijinho

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  3. Isto não é Ternura. Isso é Amor! :)

    Beijinhos

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    Respostas
    1. Mas o amor, a ternura, a amizade e todos os tipos de mimo às vezes também se misturam, não acha, Paulo?

      Beijinho :)

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