quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Intelectuais



Ainda a propósito da recente morte de Urbano Tavares Rodrigues, leio o que diz  no "DN" Vasco da Graça Moura:

(...) Urbano Tavares Rodrigues, tal como, por exemplo, David Mourão-Ferreira, cada um à sua maneira, ajudou à superação do neo-realismo dominante na década de 1940, abrindo a nossa literatura para outros territórios, a que não foi estranha uma certa conotação existencial. Assim, passou a haver entre nós uma série de autores que anexava ou procurava integrar temáticas directamente influenciadas pelo existencialismo, lia Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Albert Camus e outros afins destes, procurava formular e cultivar uma nova estética da sedução, explorava o campo erótico e sexual em termos cuja ousadia prenunciava já uma libertação que viria a ter lugar nas décadas seguintes, trabalhava a solidão humana e a angústia de existir com poucas contemplações para com a sociedade dita burguesa e cultivava um sentido de superioridade em relação a esta e aos seus valores.

E sinto-me voltar um pouco atrás no tempo. Ambos, Urbano e David, foram meus professores. E acho que só hoje entendo bem o quanto lhes devo e como, nos seus diferentes estilos e personalidades, me foi  fundamental o que me ensinaram. Porque me fizeram aprofundar o fascínio pelas palavras, que trago comigo desde sempre. E perceber como as elas são indispensáveis e essenciais à nossa existência, na sua relação com o silêncio, na distância que as separa do que dizem e também em tudo o que não conseguem dizer. E descobrir, ainda melhor, como  a leitura e a escrita podem ser um inefável e imenso prazer, como nos fazem descer ao mais fundo de nós e nos proporcionam o alargamento de olhares sobre o mundo, em muitas visões que se cruzam, se entrelaçam, se confundem e coexistem. Mais ou menos como a vida.
De facto, personalidades da cultura assim, com diz Vasco da Graça Moura, fazem-nos cada vez mais falta. Ao menos, ficam connosco as suas palavras:

Ai, a Primavera vai  passando
com os seus dedos de mistérios e de turquesa
Segue Primavera vai cantando
Que será do nosso amor nesta praia de incerteza
(Urbano Tavares Rodrigues)
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos (...)
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos

(David Mourão-Ferreira)

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