quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Sabores da infância



 Há cheiros e sabores que nos transportam involuntária e subitamente para um passado longínquo, que sabemos que já não volta e anda perdido no fundo de nós. E essa é  uma nostalgia boa, uma recordação sem o lado magoado da saudade.
Vem isto a propósito de uma notícia que soube há dias: depois de ter suspendido a sua comercialização, nos anos 90, a Nestlé voltava a pôr no mercado o Milo, o achocolatado da minha infância. Na altura não dei muita importância ao assunto.
E, no entanto, tudo isso mudou quando ontem, por acaso, me deparei com a famosa lata verde no supermercado do El Corte Inglês. Não pude resistir-lhe. Em casa, abri-a e senti logo o cheiro, tão familiar. Depois, cedendo à tentação e à gulodice, provei à colher aquele pó, que quando eu era pequena  me parecia terra a saber a chocolate. E então foi de facto um regresso ao passado.
Dizem que o Milo continua a ter a mesma composição de sempre: malte, cacau e leite,  cálcio, fósforo, vitaminas  e mais não sei o quê, que não me importa. O que eu sei é que, além da embalagem, o sabor do Milo se mantém intacto.
Isso bastou para que, de repente, o tempo parasse, ou tivesse mesmo voltado atrás. Por instantes, revi-me na velha casa da Conde Valbom, com o seu imenso corredor e a cozinha ao fundo. E voltei àquele tempo antigo, de dias enormes, com lanches a horas certas, imaginação à solta e vida despreocupada, tal como a madalena de Proust, molhada no chá, lhe devolveu a infância de Combray.

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