terça-feira, 25 de novembro de 2014

Dois pesos e duas medidas


Não posso deixar de achar muita graça a todos os que agora preferem "manter o silêncio", e mais ainda aos que vêm de forma mais ou menos indignada e às vezes até excessivamente apaixonada falar no escândalo da "violação do segredo de justiça" ou em "respeito pelos direitos humanos" e todas as barbaridades que  temos ouvido nos últimos dias. Porque são exactamente estas mesmas pessoas as que não se eximem de crucificar muita boa gente em praça pública, com base em suspeitas infundadas e em pura maledicência.
"Estamos todos consternados", ouvi eu dizer hoje. Eu não estou, garanto. Porque, para mim, a falta de respeito maior é que se tenha podido chegar ao estado a que este país chegou.
E, a propósito, vale a pena ler  José Manuel Fernandes, no Observador:
Aqui ficam alguns excertos:
Uma parte do país – e um contingente notável de comentadores – parecem continuar em estado de negação. Durante anos não quiseram ver, não quiseram ouvir, não quiseram admitir que havia no comportamento de José Sócrates ministro e de José Sócrates primeiro-ministro demasiados “casos”. Em vez disso só viram cabalas, só falaram em perseguições, só trataram eles mesmo de ostracizar ou mesmo perseguir os que se obstinavam em querer respostas, os que insistiam em não ignorar o óbvio, isto é, que Sócrates não tinha forma de justificar os gastos associados ao seu estilo de vida.
Agora, que finalmente a Justiça se moveu, eles continuam firmes na sua devoção – e nas suas cadeiras nos estúdios de televisão. Não lhes interessa conhecer o que se vai sabendo sobre os esquemas que Sócrates utilizaria para fazer circular o dinheiro, apenas lhes interessa que parte do que foi divulgado pelos jornais devia estar em segredo de Justiça. Antes, anos a fio, quando não havia segredo de justiça para invocar, desvalorizaram sempre todas as investigações jornalísticas que tinham por centro José Sócrates.
(...)
Vamos ser claros, deixando a hipocrisia do respeitinho de lado. A dúvida que havia sobre José Sócrates era sobre se seria algum dia apanhado. A percepção que corroía a confiança nas instituições não era sobre se os seus direitos humanos poderiam vir a ser negados (a sugestiva preocupação de Alberto João Jardim), mas sim sobre se algum dia um aparelho judicial que, anos a fio, pareceu amestrado seria capaz de apanhar alguns dos fios das muitas meadas tecidas pelo antigo primeiro-ministro.
Escrevi-o muitas vezes e vou repeti-lo: José Sócrates foi a pior coisa que aconteceu na democracia portuguesa nos últimos 40 anos, e não o digo por causa da bancarrota. Digo-o por causa da forma como exerceu o poder, esperando fazê-lo de forma absoluta, sem contestação, sem obstáculos, sem críticos. Não os tolerava no PS, no Governo, nos jornais, nos bancos, nas grandes empresas do regime.
Não sou a primeira pessoa a descrever assim José Sócrates. Nem essa descrição é recente. Recordo apenas um texto de António Barreto, de Janeiro de 2008 (há quase sete anos, bem antes da bancarrota), onde se escrevia que “o primeiro-ministro José Sócrates é a mais séria ameaça contra a liberdade, contra a autonomia das iniciativas privadas e contra a independência pessoal que Portugal conheceu nas últimas três décadas”.

4 comentários:

  1. Isabel, espero que a Nova Justiça actue em conformidade...
    Há anos que vejo Sócrates como um vendedor de banha da cobra, com capa de santo democrata, saindo impune e gozando com a cara de todos nós.
    Beijinho


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    1. Não sei o que pode ser pior: um certo "chico-espertismo" ou esperteza saloia de quem acha que pode tudo ou se " fiéis seguidores" em reacções mais do que patéticas...

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  2. Consternada e arrepiada fiquei eu com o país que encontrei quando cheguei de Praga há 3 anos...uma vergonha ve-lo falar 'bad english' pelos United States!!

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    1. Além do Inglês e do Espanhol "técnicos" há muito pior, Marta.
      Há pessoas que acham que são mais espertas que as outras. E há, também, quem goste de se deixar enganar.

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