domingo, 5 de abril de 2020

Recolhimento



Com o mundo inteiro estranhamente silencioso, começa hoje a que será a mais peculiar de todas as Semanas Santas que já vivemos, propiciando de forma mais intensa a espiritualidade que este tempo requer. Obrigados ao isolamento, em forçada clausura que gostaríamos que não tivesse acontecido, poderemos enfim virar-nos um pouco mais para dentro e (re)pensar-nos.
Serão, sem dúvida, uma Semana e uma festa diferentes de todas as outras. A Páscoa é para mim, juntamente com a Romaría del Rocío e, muito antes do Natal, -  imensamente corrompido pelo consumo excessivo e os gestos maquinais - a grande celebração da fé. Talvez, também, dada a sua coincidência com a Primavera, que, é de igual modo, o meu tempo de eleição, e que tem muito a ver com a plenitude do recomeço e com a festa da vida.
Este ano faltarão todos os sinos, as velas, as glórias e aleluias, a igreja cheia cantando em uníssono, os cânticos de exultação, os coelhinhos e os ovos, os abraços de quem nos quer bem, e todos os rituais e sinais exteriores da festa da vitória da vida sobre a morte.
Mas a Páscoa é também o tempo da esperança renovada, de nos perturbarmos com o inacreditável do que celebramos e é tão bonito, da alegria de acreditar no amor acima de tudo, e de reactivarmos o que de há de melhor no mais fundo de nós.
E, afinal, todos os momentos intensos da vida sentem-se sobretudo pelo lado de dentro; e nunca precisam de muitas palavras.

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