sábado, 24 de outubro de 2020

Hora de Inverno





É no dia em que muda a hora e temos de atrasar os relógios que sinto mais fortemente que o Outono está em pleno, quando na verdade há dias, ou semanas, até, que ele se vem fazendo notar. Não sei explicar, mas é como se esses sessenta minutos a mais fizessem toda a diferença, para além do óbvio que implica anoitecer e amanhecer um pouco mais cedo e da trabalheira de alterar tantos ponteiros.
E eu, que sou toda da luz e amo Primavera no seu exuberante colorido, também gosto muito do Outono e da sua doce melancolia, que faz a vida desacelerar. Gosto da alternância e da variedade das estações, dos dias compridos e claros depois da escuridão e da tristeza associadas ao Inverno, gosto da chuva que vem depois do sol, de mudar de roupas leves e frescas para outras quentes e macias, que nos protegem da aragem fria que começa a atravessar-nos a pele, sobretudo ao início ou fim do dia. E assim se vai modificando e seguindo lentamente a vida, quase sem nos apercebermos. 
Os melhores dias do Outono são os que ficam neste intervalo de tempo entre o fim das férias e o insuportável frenesim das Festas, quando tudo vai ainda fluindo devagar, as noites parecem enormes e sabe bem ficar em casa, preguiçosamente, no maior recato.  
O Outono é tempo de intimidade e de agasalho, de silêncios e de vozes baixas, de lanches no sofá e de bebidas quentes, de quietude, de afagos, abraços e aconchego, de ouvir a chuva nos vidros, de deixar-se estar. É por isso que este fim de semana  me deixo ficar mais aqui por casa, a celebrar o conforto e o sossego, até porque os tempos que vivemos também requerem recolhimento e cuidados redobrados.

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