segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Cartas de amor



Ando a ler este livro: "Cartas de Amor de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz".  E, a propósito dele, tenho reflectido sobre uma série de questões relacionadas com o  interesse que pode ter, ou não, este tipo de textos.
Ainda há pouco tempo, a Helena Sacadura Cabral de quem sou uma fã cada vez mais incondicional, publicava no seu blog um post onde dizia: "As cartas são bocados de nós e contam histórias de um tempo que passou. O seu valor reside  no olhar de quem as recebeu e naquele de quem as escreveu. Deixá-las cá ficar, significa que outros olhares se debruçarão, impiamente, sobre elas. E, a mim, isso passou a desagradar-me.
Neste momento, ando a preparar-me para queimar as cartas que, ao longo da sua vida, o meu filho Miguel me enviou e que contam um amor que é nosso e só nosso. Admitir que, um dia, alguém que não eu ou ele as leria é impensável.
Depois hei-de abalançar-me a outras missivas que conservei e que não quero nem devo partilhar com quem cá fica. Todas elas tiveram um tempo, que foi meu. E que guardei, na ilusão de que o tempo também se guarda. Não é verdade!"
Nunca pensara a fundo nesta questão e confesso que tenho tendência para guardar papéis, em especial aqueles que têm para mim algum significado. Ma é verdade que o tempo não se guarda e que há certas coisas e certas palavras que deveriam ser exclusivas das pessoas a quem dizem respeito. Porque apenas têm a ver com a intimidade de quem as vive.
Ora, não é por Fernando Pessoa ser a figura de vulto que é na literatura portuguesa, e mesmo mundial, que, a pretexto de o conhecer melhor, devemos ler tudo o que escreveu, incluindo as suas cartas pessoais, ou a lista de compras do supermercado. Estas cartas, organizadas cronologicamente numa sucessão de pergunta/resposta como se de um romance epistolar se tratasse, não têm, na minha opinião, qualquer valor literário, nem esclarecem nada relativamente à obra do autor. São apenas o testemunho remanescente de uma história de amor, feliz ou infeliz, pouco importa, mas que não nos pertence, nem deveria interessar-nos.
Ler este livro tem pois, para mim, qualquer coisa de "Janela indiscreta" que me choca, no sentido em que não deixa de ser uma devassa da vida privada. Pergunto-me se o Fernando Pessoa e a Ofélia Queiroz gostariam de ver estes seus textos publicados e alvo dos olhares e comentários indiscretos e coscuvilheiros do mundo.
E penso como é maravilhoso não ser ninguém conhecido e a minha vida privada não sucitar  interesse público algum.

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