quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Paris


Depois de Lisboa, é Paris a cidade que trago no coração. O que nos liga é um amor intenso e muito antigo. Conheci-a nos livros, nas fotografias, nas canções, nos filmes, antes de a conhecer na realidade; idealizei-a ao sabor da minha imaginação, deixando-me encantar pelo romantismo e a boémia que lhe estão associados, num tempo em que a cultura francesa era ainda a cultura dominante, embora já em fase de declínio.
Quando a visitei pela primeira vez, devia ter uns dezanove anos. E foi uma enorme emoção. Sonhara com esse encontro vezes sem conta. Ainda me lembro como se fosse hoje da minha entrada inicial em Paris, de madrugada, na excitação de tudo o que se quer muito e acontece pela primeira vez, na alegria desassombrada  de poder por fim estar num lugar que nunca vira antes e que, no entanto, já me pertencia. E da comoção de tudo ser  tão real e palpável, daquele mundo, até aí sonhado e imaginário, subitamente tornado verdade para os meus sentidos; e daquela primeira impressão de grandiosidade, de que tudo era afinal imenso, ou, pelo menos, muito maior do que  eu imaginara.
Hoje, já não sei quantas vezes lá voltei. Conheço Paris em quase todas as estações do ano: sei do sol abrasador nas tardes de Verão do Quartier Latin - que eu adoro -, do frio cortante que se sente ao caminhar nas Tuileries, em manhãs gélidas de Inverno, do encanto da cidade tão justamente apelidada cidade luz (ville lumière) intensificado pelo brilho das iluminações na época de Natal, da doce tranquilidade das manhãs na Place des Vosges, do sol de Primavera amenizando o silêncio e a quietude dos cais do Sena, luminoso, reflectido no rio, ou fazendo brilhar os  típicos telhados, na deslumbrante vista da cidade desde Montmartre. Falta-me apenas Paris no Outono;  e imagino como devem ser fantásticos os fins de tarde no Jardin du Luxembourg,  - que é um dos meus locais preferidos -, com as árvores e os extensos relvados cobertos de folhas douradas.
Gosto de tudo em Paris: dos monumentos e dos edifícios, das ruas e dos cafés, das praças, dos jardins, da cidade construída à volta do rio, da dissemelhança das suas inúmeras pontes, dos bateaux-mouche, passeando de cá para lá no Sena, da arte em cada esquina, do requinte de cada detalhe, do ar em que se respira cultura e sofisticação, da atmosfera simultaneamente retro e avant-garde.
Paris é uma cidade apaixonante, um daqueles lugares com alma, onde o amor apetece. Há nesta cidade uma magia qualquer, uma luz especial, um magnetismo insondável, que me faz querer sempre voltar. Porque, para mim, regressar a Paris é como regressar aos braços de um amor antigo, que se conhece de cor e ainda assim nos surpreende e entontece, que guarda inesgotáveis segredos por revelar. Entre nós há uma cumplicidade que não consigo explicar. Talvez só em Baudelaire, na sua Invitation au Voyage, encontro algo que se aproxima vagamente do que Paris me faz sentir, no dístico que se repete como um estribilho: Là, tout n'est qu'ordre, beauté, luxe, calme et volupté.
Paris é um dos meus grandes amores. Um amor sem porquê. Mas, não são todos os amores inexplicáveis, avessos a definições, irredutíveis às palavras?  

8 comentários:

  1. Foi em Paris que conheci o meu futuro marido, que agora é o meu ex-. T'inhamos precisamente 19 anos, éramos uns miúdos, ele mais sensato e responsável, como sempre foi, eu mais ingénua e cheia de amor para dar. Paria também significava para mim leituras intermináveis da Berthe Bernage e mais tarde dos escritores franceses que tive de lel para a cadeira de Lit Francesa, que fiz como opção. Esses locais que cita tb me fazem lembrar a Condessa de Ségur e os seus livros, que li e reli da Colecção Azul. Alem disso havia os Charles Aznavour, Gilbert Bécaud, François Hardy, Jacques Brel, Adamo!!
    Os meus pais iam muitas vezes lá, tinham amigos franceses do coração, levaram-me lá tinha eu 16 anos. Foi uma loucura, os Prix Unic, os Lafayette, o Moulin Rouge, o Rodin, TUDO!
    Infelizmente há muitos anos que lá não vou por ter de ir a Leeds, onde a minha filha esteve cinco anos e a Munique onde o meu filho viveu sete. Viajei muito, mas nunca a Paris. Já disse que tenho de lá voltar...

    Obrigada por este belo retorno à cidade mais linda do mundo ( descontando Veneza...)

    Bjo

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  2. Também li Berthe Bernage quando era adolescente e ouvi Brel, Brassens, Ferrat, Ferré, Reggiani, que até tocava na viola (enfim, tentava) nos velhos tempos dos "jovens do amanhã"! (eheheh)

    Beijinho ;)

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  3. Nao consigo ouvir Reggiani sem me impressionar.

    Ce soir mon petit garçon....

    Canções maravilhosas que me fazem voltar a hier enconre....

    Bom fim de semana!

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    1. Pois! Reggiani vi-o ao vivo, em Lisboa, no meu primeiro concerto, acho que em 1980. Emocionante como cantor e também como "diseur".
      Parece que ainda consigo ouvi-lo: "Rapelle-toi, Barbara/ il pleuvait sans cesse sur Brest ce jour-là/ et tu marchais souriante, ravie, épanuoie/ ruisselante sous la pluie"... Lindo! :))
      Bom fim de semana também para si, Virgínia!
      Beijinho

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  4. Acho que vi a Isabel hoje na revista Caras ou Flash, que li no cabeleireiro. Estva na fila para autografo do livro da Helena SC. Só a conheço do FB, mas quase que juro que era a Isabel. Foi engraçado:))

    Só leio a Caras no cabeleireiro e uma vez por mês. Coincidências!!

    Bjo

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    1. Com um vestido azul de xadrês? É possível, porque de facto estive lá... Tenho que ir averiguar isso... eheheh!

      Dizem que não há coincidências, não é?
      Beijinho

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  5. A propósito de Paris, há uns valentes anos fiz um valente disparate (ou não!): calcorreei o Louvre durante dez (dez!) dias seguidos. Ainda tenho a planta mental daquilo tudo... e lá fora tanta luz!

    Beijinhos:)

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    1. Pois diz bem, Paulo "e lá fora tantas luz!". Deve ser por isso que conheço vagamente o Louvre, embora já tenha repetido várias vezes o Musée d'Orsay, porque adoro os impressionistas. Mas Paris, ou mesmo qualquer outra cidade, para mim, é muito mais as ruas, as pessoas, o movimento da grande cidade, a luz, do que os museus, que só visito q.b. (cultura sim, mas em doses moderadas eheheh)
      Não acha Paris uma cidade irresistível?
      Beijinho

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