sexta-feira, 7 de junho de 2013

O que o tempo faz ao amor



Sou suspeita. Já o dissera há três ou quatro meses: esta era, para mim, a estreia cinematográfica mais aguardada do ano. Por isso tive que ir ver o filme logo no primeiro dia. E não me desiludi...
"Antes da meia-noite" (Before Midnight, no original) é a continuação de dois dos meus filmes preferidos. Neles se conta, ao longo do tempo, a história de amor de Jesse e Céline (Ethan Hawke e Julie Delpy). Entre cada um, há nove anos de intervalo. E essa coincidência entre o tempo da história e o tempo da narrativa é talvez um dos motivos que lhes confere maior encanto e originalidade. Na verdade, encontrar Jesse e Céline ao fim de nove anos é como encontrar velhos amigos, notar-lhes no corpo o efeito da passagem dos anos e saber o que foi feito das suas vidas.
O argumento é banal, escrito pelos próprios actores, em co-autoria com o realizador, Richard Linklater. Mas é precisamente o realismo do que nos é contado que o aproxima de nós. No fundo, a sua história é uma ficção e nós sabemo-lo, mas também podia ser a nossa. Porque estas personagens são como nós; e o que elas dizem, sentem e vivem, também já nós alguma vez dissemos, sentimos ou vivemos. Naquele olhar meio malandro de menino bom que tem Etan Hawke, por exemplo, eu consigo (re)ver algumas pessoas que conheço.
No filme de agora encontramos Jesse e Céline dezoito anos depois do primeiro encontro em Viena (Before Sunrise) quando só tinham vinte anos e ainda tinham tudo por viver. E nove anos depois do de Paris (Before Sunset), a paixão amadurecida pelo tempo e reavivada pelo reencontro inesperado, como uma promessa de felicidade próxima da concretização.
Em Before midnight, Jesse e Céline, desta vez na Grécia, são um casal igual a tantos outros, com uma relação minada pela rotina do quotidiano e pelo desgaste do tempo, numa demonstração clara de que mesmo os grandes amores, aqueles da vida toda, sobrevivem mal à passagem dos anos. Que têm uma espécie de prazo de validade. E, tal como nos outros dois, o filme vive mais do diálogo do que da acção. Nós limitamo-nos a acompanhar os passeios e as conversas dos dois, o que não é pouco.
E, no entanto, percebemos que apesar de se conhecerem nos mais pequenos detalhes, com tudo o que isso tem de bom e mau, apesar da cumplicidade e de uma infinidade de coisas que os une e que os separa, o que os liga ainda perdura, em momentos fugazes de prazer, ou de romantismo, dos quais as cenas do pôr-do-sol a que assistem juntos (still there, still there) que é bonita apesar de ser um pouco "lugar-comum", ou a enternecedora cena final, são exemplos paradigmáticos.
E, nem que seja porque o amor é a melhor  e a maior parte da vida, vale a pena ver este filme. Eu adorei!

2 comentários:

  1. Já fiz a minha crítica no blogue e embora não partilhe com tanta veemência no louvor ao filme, devo dizer que me surpreendeu. Não vi o segundo filme no cinema, só na TV e desiludiu-me um pouco. Quanto ao primeiro vi-o tantas vezes com os meus alunos que já deixei de lhe ver o encanto. Este é bonito e profundo, apesar da banalidade da situação.
    Não sei se o amor deles durará muito, mas desejo-lhes felicidades!!

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    1. Eu gosto muito dos três filmes, porque cada um corresponde a uma determinada fase da vida. Para mim, o segundo é tão bonito e profundo como este, apesar de diferente. E depois, é em Paris ;)

      Quanto ao amor deles, acho que terá os dias contados. E eu até sou optimista!...
      Beijinho

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