sexta-feira, 5 de julho de 2013

Pontos nos is: eu continuo a estar com Paulo Portas!

Tenho evitado pronunciar-me muito sobre o que se está a passar. Por duas razões: porque quando toda a gente se põe "aos berros", acho sempre que o melhor é manter-me calada. E porque, na verdade, no rigor, ninguém sabe exactamente o que se passa. Temos apenas umas ideias. E a comunicação social, vergonhosa, só contribui para aumentar ainda mais a confusão, especulando sobre cenários e enredos, dizendo e desdizendo tudo e mais alguma coisa a cada minuto, inventando casos e assuntos e potenciando a agitação, que vai assumindo contornos mais ou menos indignados, ou mesmo esquizofrénicos.
E, no entanto, tenho que dizer isto: estou farta de ver e ouvir acusarem Paulo Portas, como se o responsável por tudo isto fosse ele e a sua decisão de se demitir. Esquecendo que, antes dele, houve Gaspar e a famigerada carta, como tão bem lembrou ontem HSC, no seu "Fio de Prumo". E, depois de Gaspar, houve ainda Passos Coelho, com a sua habitual arrogância, persistindo numa teimosia para lá de limites humanamente aceitáveis, mostrando-se incapaz de ouvir, sequer, quem é mais experiente e mais sabedor e ignorando o significado de uma coligação.
Eu compreendo a atitude de Paulo Portas e acho, até, que ele fez bem. Porque todos nós, em tudo na vida, temos limites para lá dos quais não podemos transigir. Porque Paulo Portas aguentou muito. Porque foi sistematicamente desconsiderado e as suas opiniões desvalorizadas e criticadas, como se de uma "traição" se tratasse. Como se Paulo Portas não pudesse cometer um erro. Como se não pudesse até "passar-se". Eu sei que tudo isto tem repercussões muito graves no país, mas também acho que em nome da estabilidade política, do sentido de estado e do patriotismo, de que Paulo Portas já deu, de resto, provas mais do que suficientes, não se lhe pode exigir que se deixe humilhar e que continue calado e quieto, mesmo contra a sua consciência e convicções.
Não será por acaso, aliás, que todos, incluindo os seus maiores críticos, lhe tecem os mais rasgados elogios pelo trabalho desenvolvido enquanto Ministro dos Negócios Estrangeiros e falam na sua prestação competente e eficaz. Como é que o país ainda não percebeu que era Paulo Portas  que devia estar a governar-nos?
Estar de fora a criticar, como faz quase toda a gente, é demasiado fácil. Se há coisa de que acho que não pode acusar-se Paulo Portas é de não pensar no país. Porque ele já fez muito mais do que a maior parte (para não dizer todos) dos que agora o criticam, sem ter a noção de como é difícil governar nas condições actuais e com um partido que, embora precisando do seu parceiro de coligação, não o quer ouvir, nem aceita as suas posições diferentes.
Seria bom que ele falasse, dizem-me. E eu concordo. Este silêncio não o tem ajudado muito, nem a ele, nem a nós.
E quanto ao partido, também há muita coisa que eu não entendo. Porque se é verdade que a decisão de Paulo Portas foi tomada de uma forma totalmente pessoal, desvinculando dela o partido, também é verdade que eu esperava que o partido o apoiasse e não entendi a continuidade de Mota Soares e Assunção Cristas em funções. É que importa ter em conta que as atitudes prepotentes de Passos Coelho não se referem apenas às suas divergências com Paulo Portas, mas com um parceiro de que ele precisa e ainda assim não aceita. Porque o PSD não tem qualquer tipo de consideração pelo CDS, convenhamos.
E só espero que o partido entenda que, sem Paulo Portas o CDS não existe, do mesmo modo que o PSD nunca mais se "endireitou" desde que perdeu Sá Carneiro.
A questão da liderança não é de todo indiferente, em circunstância nenhuma, e neste caso ainda mais. Espero que o CDS perceba isso com clareza.
Por mim, se Paulo Portas sai, deixa de fazer sentido manter-me no CDS. Mas ainda espero que isso não aconteça!...

12 comentários:

  1. Isabel, muito mal vai um partido se só existe se suportado por uma só pessoa, uma só perspectiva, uma única alternativa. Por definição, um partido unipessoal é nada. Se algo de positivo sucedeu com esta crise, foi a emergência de novas opiniões e pensamentos dentro do CDS, caso contrário este se extinguiria com a demissão do seu presidente. Quando elegemos um partido, elegemos uma determinada corrente de pensamentos e actuações políticas concretas. Caso contrário, estaríamos no domínio de um sistema presidencial; o que não é o caso português.

    (já cá volto)

    Beijinho :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim e não, Paulo! Em teoria, concordo completamente consigo. É verdade, como diz, que "quando elegemos um partido, elegemos uma determinada corrente de pensamentos" que o sustentam. Óbvio! Mas a liderança não é irrelevante, de todo. NO CDS há, além de Portas, outras pessoas de quem eu gosto muito, como há outras de quem eu gosto menos e ainda aquelas de quem eu não gosto nada. O que é absolutamente natural. Mas mesmo entre aquelas de que eu mais gosto não vejo nenhuma com o mesmo carisma e a mesma força, experiência, capacidade de acção e sagacidade de Paulo Portas.
      De resto, se pensarmos bem, quando Paulo Portas não esteve à frente do partido, os resultados do CDS desceram para níveis quase miseráveis.
      E não consigo concordar consigo quando fala na "emergência de novas opiniões e pensamentos dentro do CDS". Fala de Anacoreta Correia? De Ribeiro e Castro? Se sim, tanto um como outro, para mim, não têm credibilidade nem força ou capacidade para liderar o partido (como, aliás, no caso de Ribeiro e Castro, já se provou). As suas posições parecem-me mais do que opiniões discordantes, que são até positivas e bem aceites neste partido, exercícios de pura má-língua e necessidade de protagonismo.
      Mas isto é a minha opinião, subjectiva até aos ossos e que vale o que vale... ;)

      Um beijinho, Paulo! :)

      Eliminar
    2. Mais uma ronda (isto hoje tem de ir aos bochechos):

      [Claro que estamos aqui a trocar meras opiniões pessoais e é assim que gosto que seja: ninguém quer "ganhar" a ninguém]

      Claro que PP deu uma maior dimensão ao CDS (embora tenha sido com Manuel Monteiro que tenha atingido 18%), tentou congregar uma série de tendências no mesmo partido, pô-lo de novo no arco governativo, etc, mas um grande líder também tem de saber perpectuar o seu legado assim que decida sair. Um partido, para ser grande, tem de ser cada vez mais plural e aberto a novas ideias da sociedade civil; jamais fechando-se sob si mesmo e, muito menos, sob o núcleo duro do seu líder. Quando falei na emergência de novas opiniões, não me referi a nenhum nome em especial (aliás, ninguém sabe ao certo quais foram os 14, dos 19, conselheiros que aconselharam o PP a voltar às negociações com o PM), mas, dos que emitem opinião, posso referir o Lobo Xavier e o próprio presidente da bancada parlamentar do partido (não me lembro agora do nome). O relevante não são os nomes, é a tendência de toda uma bancada parlamentar que não quer que o CDS saia da coligação e que se insurgem contra a gravidade de uma iniciativa, repito, pessoal do seu líder. Mal conheço o Anacoreta e a opinião do Ribeiro e Castro vale hoje tanto quanto o peso que ainda não emagreceu (cruzes, só espero que não seja doença).

      (ainda volto) :)

      Eliminar
    3. Postas as coisas nestes termos, consigo concordar quase completamente consigo, Paulo! Eu também acho que um partido deve ser o mais plural e aberto possível e acho que o CDS até o é. O que se passa é que Paulo Portas é um político por excelência e nesse sentido é capaz de congregar à sua volta muita gente e constituir-se como uma espécie de "força motora", que é provavelmente nsquilo em que consiste o carisma.
      O facto de haver no CDS quem não concorde com a atitude de Paulo Portas não é para mim, em si mesma chocante. Mas precisava de ouvir Paulo Portas para saber o que ele tem a dizer sobre tudo isto. E ainda acho que esperava que o partido lhe tivesse dado um pouco mais de apoio, não sei.
      Enfim, não imagina como eu gostaria de poder estar hoje naquel Conselho Nacional...

      (Volte, volte, que é sempre muito bem-vindo! ;)

      Beijinho, até já! :)
      Não ouvi o que disse Nuno Magalhães (é dele que fala, presumo)

      Eliminar
  2. Boa tarde,
    Sabe que não parece mas até gosto de a ler. Neste caso vou comentar resumidamente. Em relação ao tema, já agora, eu fui votante do CDS nas últimas eleições, mas confesso que a questão do líder no meu caso não é e não foi assim tão importante: acima disso existe uma concepção de sociedade, etc., etc., etc., que vive para além do líder e tem o seu espaço (tal como o de outras forças), numa sociedade equilibrada. Claro que o líder é importante para criar uma dinâmica, mas não deve um partido viver disso. Se o PP deveria ser primeiro-ministro? Aí penso que não: o partido é minoritário na coligação. Se deveria o CDS ter a pasta das finanças? Aí penso que sim.
    O que aconteceu exactamente não sabemos, pelo que acabamos por especular um pouco, mas, Neste caso concreto, confesso que não gostei da actuação, nem do PPC nem do PP. De quem é a culpa? Sinceramente por agora não sei nem me interessa: discutir culpas sim, mas depois e resolvidos os problemas. Aquilo que o PP fez foi simples: já que o PPC não quis dialogar a bem, dialoga agora a mal (vulgo ficou entalado). Consegui mas, mesmo acreditando que tem razão do seu lado, preferia por parte do PP uma linha mais moderada, em que primeiro se demitia em privado, acertava as trocas de cadeiras, etc., e só depois de encontrada uma solução vinha a público e demitia-se (se o chegou a tentar ou não esta via, não sabemos: a mim parece-me que que agiu simplesmente de forma extemporânea, logo não). É que isto de ser-se político não pode ser bater com a porta, sair de cena e deixar o país “descalço” (mesmo que não se tenha culpa), pelo que agora os dois têm a obrigação de se entenderem e apresentar uma solução para o problema. Depois logo se vê quem tem mais ou menos razão. O mesmo com o caso do VG: acordava-se a demissão, encontrava-se um substituto (de preferência de jeito), e quando se viesse a público comunicar a demissão apresentava-se ao mesmo tempo o novo ministro. Será assim tão complicado para esta gente?

    Bom fim de semana.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ahah! Sempre tão prolixo, Sérgio! Se isto é comentar resumidamente...
      Mas sem problema: aqui todos os leitores e comentadores são bem-vindos, com duas ressalvas: com identificação e sem insultos. ;)

      Quanto ao tema, como diz, quando falo em Paulo Portas primeiro- ministro não me refiro a esta coligação, como é óbvio. O CDS tem absoluta consciência de que na coligação tem o peso que o eleitorado lhe deu. Isso não significa, porém, que o CDS tenha de engolir os seus pontos de vista divergentes e fazer apenas o que o PSD decide, como quer Passos Coelho e mais alguns.
      Claro que não sabemos todos os meandros da questão, mas eu julgo que Paulo Portas teve a atitude que teve porque de outro modo ninguém ligava nenhuma à sua opinião, como foi sendo feito, repetidamente.
      Dir-me-á que ele podia tê-lo comunicado ao partido previamente e eu tendo a achar que sim, mas também penso que se ele agiu deste modo, lá saberá porquê. Era importante, em todo o caso, que no-lo dissesse. Acho que é o lhe falta fazer.

      A este respeito há texto de Domingos Amaral (por quem não tenho nenhum tipo de simpatia), mas que não deixa de ser interessante. Está aqui:http://domingosamaral.com/ e chama-se "Os ataques furiosos a Paulo Portas dão-me vontade de rir".

      Bom fim de semana também para si, Sérgio.

      Eliminar
  3. Olá Isabel,

    Trabalhei com uma pessoa - excelente profissional - que me ensinou que, quando alguém está aos 'berros', deixamos a pessoa 'berrar', e quando ela terminar, pedimos que repita tudo outra vez, baixando o tom de voz, de forma a que possamos entender e dar resposta. Homem sábio.

    Quanto ao assunto em questão, que já tivemos oportunidade de discutir no meu blogue, estou consigo, sabe que também sou a favor de Paulo Portas, só que, acabou por dar um passo atrás quando disse que a demissão era irrevogável. Esse voltar atrás, acabou por deixá-lo um pouco fragilizado perante o olhos dos portugueses, que como sabemos estão contra o 'abandono do barco'. Eu defendo que ele não abandonou. Porque não o acho um desistente. Mas de repente comecei a ter algumas dúvidas quanto à intenção de se demitir do cargo que ocupava.

    É um homem extremamente inteligente. Extremamente culto. Um estratega. Isso ninguém lhe tira.

    A ver vamos quais são os próximos acontecimentos.

    Beijinho e um bom fim-de-semana.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Vejo a atitude dele mais como um "violento murro na mesa" que infelizmente "partiu a loiça toda", porque as consequências disso são, para já, imprevisíveis.

      Mas como diz, agora é esperar para ver.
      Bom fim de semana também para si, Maria.
      Beijinho

      Eliminar
  4. Concluindo, não ponho as mãos no fogo por nenhum dos quatro (Paulo Portas, Passos Coelho, Cavaco Silva e Vítor Gaspar), mas não tenho a menor dúvida de quem se encontra na pior posição: Cavaco Silva. Dele depende todo um país em agonia. Espero que pelo menos por uma vez nos surpreenda. Positivamente.

    Beijinho (hoje não consigo dar mais para este peditório),

    :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ó Paulo, eu costumo dizer que não ponho as mãos no fogo por ninguém, nem mesmo por mim... :P

      Quanto a Cavaco, adoraria que o Paulo estivesse carregadinho de razão, mas "tenho muitas dúvidas" (e também me engano muitas vezes...) eheheh

      Pois, infelizmente (ou não) acho que ainda vamos voltar a falar sobre isto, noutro(s) dia(s).

      Beijinho :)

      Eliminar
  5. Complicado, Isabel! Só lhe digo que votei Paulo Portas, independentemente das suas ideologias politicas. Ele é considerado um a pessoa inteligente e com boa formação. O resto vamos vendo!...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O Paulo Portas é o único político, na verdadeira acepção da palavra, que temos em Portugal. Digo eu...

      Eliminar