quinta-feira, 17 de abril de 2014

A "Madrugá"


Na Andaluzia, de que eu tanto gosto, há três momentos que marcam a Primavera: a Semana Santa, a Feira de Abril e a Romaria do Rocío, de que já aqui falei.
Na Semana Santa, Sevilha modifica-se, enche-se de gente e, entre o Domingo de Ramos e o Domingo de Páscoa, pelas ruas apinhadas passam as procissões das cerca de cem confrarias e irmandades, num percurso que as leva até à Catedral.
Mas é na madrugada de Sexta-Feira que  a Semana Santa de Sevilha vive o seu momento alto e verdadeiramente especial - la Madrugá - com a saída das seis mais emblemáticas e conhecidas confrarias, por ordem de antiguidade, ao longo de toda a noite: La hermandad del Silencio; la del Jesús del Gran Poder; la Esperanza Macarena; el Calváriola Esperanza de Triana; e la de Los Gitanos.
É uma noite de magia e de emoção, com as imagens religiosas mais carismáticas de Sevilha nas ruas a cheirar a incenso e a flor de laranjeira, entre música, silêncio, os passos dos costaleros que transportam os andores (los pasos) e as saetas, um cântico religioso de cariz flamenco, intenso e dramático, cantado de forma aparentemente espontânea a capella, desde uma varanda ou em plena rua, diante das imagens.
Apesar de não parecer, nunca estive "ao vivo e a cores" na Semana Santa de Sevilha. Mas algum dia será. O que conheço da Madrugá é apenas o que vi pela televisão, o que li e o que me contaram.
E se me interessa tanto tudo isto é  porque há, na maneira festiva e de certo modo grandiosa como os espanhóis vivem a fé, uma alegria intrínseca, até nos momentos de maior seriedade e recolhimento, com a qual me identifico muito mais do que com a religiosidade portuguesa, que me parece bem mais tristonha e "lamurienta"... 
(Fotografia de Pepo Herrera)


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