quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A ver


Cyrano de Bergerac, para mim, começou por ser o autor de Voyage dans la lune, ou Histoire Comique des États et Empires de la Lune, obra publicada em 1657, dois anos após a morte do seu autor, e interessantíssima pela audácia das ideias que defende.
É antes de mais uma obra de divulgação de concepções científicas e filosóficas da época, fazendo-as coexistir com  uma componente feérica e até de certo modo burlesca, evidenciando ainda uma estética barroca, no funcionamento simultâneo dos contrários, o cómico e o sério, a Terra e a Lua, que não é mais que o mundo ao contrário, (e por isso mesmo a procura de um lugar diferente e mais justo, onde a felicidade é possível), relacionando-se também, neste sentido, com a utopia de Thomas More.
Só mais tarde conheci  a peça de Edmond Rostand, de 1897, escrita em verso, e baseada na vida de Cyrano de Bergerac,  - célebre por ser também um conhecido espadachim e pelo seu proeminente nariz -, na qual é apresentado, acima de tudo, como um herói romântico.
A brilhante interpretação de Gérard Depardieu no filme de Jean-Paul Rappeneau, de 1990, cola-o definitivamente à personagem e torna-a inesquecível. Impossível ainda hoje, para mim, não ouvir a voz de Depardieu quando leio excertos da peça. Como este, por exemplo: 
Un baiser, mais à tout prendre, qu’est-ce ?
Un serment fait d’un peu plus près, une promesse
Plus précise, un aveu qui veut se confirmer,
Un point rose qu’on met sur l’i du verbe aimer ;
C’est un secret qui prend la bouche pour oreille,
Un instant d’infini qui fait un bruit d’abeille,
Une communion ayant un goût de fleur,
Une façon d’un peu se respirer le cœur,
Et d’un peu se goûter, au bord des lèvres, l’âme !
Pois esta peça de Rostand, traduzida e adapatada para português numa versão que julgo não ser em verso como o original (hélas!) está em cena no Teatro D. Maria, até ao dia 1 de Março.
No papel de Cyrano, o melhor dos nossos actores: Diogo Infante. E porque ele é sempre excepcional, quero muito ver o que  faz com a personagem e se  vai enfim conseguir fazer-me esquecer Depardieu.
É claro que não posso perder!...
 

4 comentários:

  1. Interessante sugestão. Será que conseguiremos assistir à peças totalmente isentas, sem associar a personagem à interpretação de Gérard Depardieu?

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    1. Totalmente isentas é impossível, mas Diogo Infante surpreende-me sempre pela positiva. Até agora, pelo menos... A ver vamos ;)

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  2. Diogo Infante fá-la-ia (cruzes, que conjugação pronominal) esquecer não fora a melodia muito mais romântica da Língua Francesa. É Actor para isso.

    Beijinho :)

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    1. Ahahah! (pois, de facto...)

      É isso tudo que eu quero verificar, Paulo. A sonoridade da Língua Francesa toca-me sempre de uma maneira muito especial, mas Diogo Infante consegue sempre surpreender-me, a ponto de achar, a cada vez que o vejo, que aquele é o seu melhor papel. E que é insuperável.
      Estou muito curiosa... mas prometo contar tudo!

      Beijinho :)

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