quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Charlie - nous sommes tous français

 
 


O título desta crónica não é muito original – mas é o que me apetece escrever. É mesmo o que devo escrever. Não porque aprecie especialmente o Charlie Hebdo. Na verdade, nunca gostei muito da publicação, cujo humor roça por vezes a boçalidade e onde se chegava a desenhar com um sentido pornográfico não muito diferente do nosso desaparecido José Vilhena. Mas isso não interessa. O que interessa é que as balas hoje disparadas na redacção do Charlie Hebdo foram balas disparadas contra todos os jornalistas, contra todos os que defendem a liberdade de expressão, contra todos os que apenas desejam viver numa sociedade aberta, tolerante e plural.
A tragédia não é só do Charlie Hebdo, nem só dos parisienses ou dos franceses. É do jornalismo mundial. É de todos os homens livres.
Na verdade estamos todos de luto. Luto pelos que morreram, os jornalistas e também os polícias. Luto por termos ficado todos menos livres. Isso mesmo: menos livres. No dia de hoje, por todo o mundo, vamos estar solidários e indignados; amanhã muitos pensarão duas vezes antes de escreverem, de filmarem, de reportarem. E depois de amanhã até pode acontecer que surjam mais leis anti-blasfémia, que mais gente veja na crítica a certas práticas dos islamistas uma condenável “islamofobia”. Já aconteceu, está a acontecer, é possível que aconteça ainda mais.
(...)
As manifestações de intolerância dos radicais islâmicos, que numa altura de sobressalto todos condenamos, não podem levar-nos, passada a indignação, a tratar de encontrar explicações, desculpas ou remédios. Temos de poder ser livres de nos pronunciar sobre a religião islâmica com o mesmo grau de liberdade com que nos pronunciamos sobre outras religiões.
Tenhamos pois coragem.  (...)
Honremos as palavras de Stéphane Charbonnier, aliás Charb, desenhador e director do Charlie Hebdo, hoje assassinado: “Prefiro morrer de pé do que viver de joelhos”.
 
De tudo o que li sobre o que hoje aconteceu, escolhi este excerto do texto de José Manuel Fernandes, no Observador; Porque não encontro palavras...

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