quarta-feira, 2 de outubro de 2019

A tirania do Inglês


Que os Portugueses, que são um povo subserviente e parolamente embasbacado por tudo o que é do "estrangeiro", se deixem dominar por esta tendência avassaladora de imposição da língua inglesa nos mais diversos domínios não me espanta. Não se trata apenas da intromissão de palavras inglesas na linguagem corrente, ou nas legendas pirosas das fotografias do Instagram e do Facebook, mas de uma onda mais vasta, e até preocupante, que faz com que em muitas universidades portuguesas as aulas já sejam dadas apenas em inglês, e se tente alargar agora a "moda" ao ensino secundário, pelo menos em alguns colégios "armados ao pingarelho".
A mim dá-me vontade de rir tanta preocupação com o domínio de uma língua que não é a nossa, quando a maior parte dos seus falantes tem um conhecimento incipiente ou medíocre da sua língua materna, não sendo por isso capaz de estruturar o pensamento e/ou ter uma consistente visão do mundo. 
Mas o que foi para mim verdadeiramente chocante, foi constatar que até França, considerado um país absolutamente patriota no bom e no mau sentido, com um povo demasiado orgulhoso da sua língua e civilização, se deixou levar por este irritante hábito, que nem a globalização justifica. 
Hoje, ao contrário do que se passava ainda há poucos anos, em qualquer lugar francês mais turístico as pessoas dirigem-se-nos à partida em inglês; e só quando percebem que falamos francês mudam para a sua língua, quando deveria ser exactamente o oposto. 
Questionado sobre esta novidade absurda, um francês disse-me que em cada dez pessoas que os visitam, oito não falam francês. A justificação não me convence. Na verdade, seja por bazófia ou por apatia, até eles acabam por acomodar-se  ao caminho mais fácil. E dá-me verdadeiro asco esta espécie de generalização que torna tudo tão maçador e bem mais desinteressante, pois é a diversidade de cada língua e a mundividência que lhe está subjacente que melhor contribuem para o enriquecimento próprio e alheio, e justificam, no limite, o prazer de conhecer o que é diferente.
Neste aspecto como em muitos outros, tiro o meu chapéu aos espanhóis, que continuam a defender a sua língua e a sua cultura com unhas e dentes, sem querer saber do que fazem os outros, que é como devia ser sempre!

2 comentários:

  1. Vai ser curioso observar, daqui a uns tempos, quando a língua mais falada no parlamento europeu, for a de um país que já não pertence à união.
    Curiosa visão da língua, como estrutura do pensamento. Sempre tive para mim que o que mais contribuiu para aprender a resolver problemas de uma forma estruturada, foi a matemática, que é feita exclusivamente de conceitos abstractos, desligados de qualquer língua.

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    1. Sérgio, mesmo os conceitos abstractos da Matemática têm por base o domínio maior ou menor da língua. De resto basta ver que muito do insucesso da Matemática e de outras matérias decorre do facto de não se ser capaz de entender os enunciados e as questões colocadas.

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