sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Take me as I am


Não acreditava muito no que se dizia dos signos, mas se houvesse nisso alguma verdade, então era de Peixes sem tirar nem pôr, aquele que se crê que tem as mulheres mais excessivas, desconcertantes e misteriosas, ostentando emoção e sensibilidade de forma desmedida.
Sabia muito bem o que não queria e, com o tempo, aprendera que amar também é soltar mais que prender. Continuava a ter dúvidas e incertezas sobre muitas coisas e perguntava-se se seria certo ir deixando a vida acontecer assim, ao sabor da vontade, ora deixando-se levar pelo coração, sem pensar, ora não querendo coisa nenhuma e caminhando  simplesmente, sem certezas nem quereres, confiando em si e na sua força, amando a sua liberdade, sonhando o impossível.
Achava que a felicidade não é um estado permanente mas momentos de plenitude total,  um turbilhão de emoções contidas que se soltam de repente e parecem existir fora da vida real, como no auge do prazer, corpos agarrados um contra o outro, em longos abraços, no doce embalo de que só o amor é capaz...
Gostava de beleza e sensualidade, de cinema, de música  e de literatura, de sol e de mar, tal como amava as cidades, os relógios e os livros; tinha nos afectos a sua maior força, aconchego e apoio; não tolerava a burrice, a má educação e a falta de nível e de bom gosto, por mais subjectivo que ele pudesse ser.
Dedicava-se ao que fazia com carinho e atenção, tinha um espírito e um corpo que alternavam entre a serenidade e a inquietação, gostava de gente e de solidão, era conservadora e arrojada, porque havia em si todas as contradições de qualquer ser humano.
E, mesmo nos  dias em que não havia nada que lhe apetecesse mais que um certo abraço muito apertado e  uma companhia serena que às vezes lhe sabia a pouco e outras vezes a paraíso total, tinha a convicção que vida é sempre para aproveitar como nos chega, que há certezas que se intuem e apenas se lêem no fundo dos olhos, e que todos os caminhos são uma possibilidade em aberto e se vão escolhendo e construindo devagar, com o impensável e o imprevisível da cada momento. 
Pensava nisto tudo, enquanto dentro da cabeça, repetidas, seguiam as palavras de uma velha modinha brasileira:
Eu nasci assim
Eu cresci assim
Eu sou mesmo assim
Vou ser sempre assim..
(...)
Eu sou sempre igual, não desejo mal
Amo o natural
etcetera e tal...

Sem comentários:

Enviar um comentário