sábado, 7 de março de 2020

Feliz por ter nascido

Quase sem darmos por isso, os dias vão-se somando e num instante passam muitos anos. No dia do nosso aniversário é quando tomamos claramente consciência de que estamos a ficar mais velhos, apesar de o processo ser gradual e  acontecer em todos os segundos, minutos, horas e dias da nossa vida de forma mais ou menos imperceptível. Mas isso é, penso eu, um bom sinal. Sou uma daquelas pessoas que gosta muito de fazer anos. Porque a vida é para ser festejada; e porque acho que só tenho razões para me sentir feliz.
Agora, que já tenho um percurso muito razoável, sinto-me bem com o que sou e com o que tenho, embora saiba que aqui e ali poderia ter sido ou feito diferente. Mas não me arrependo de nada. Aceito as marcas do tempo com naturalidade e nunca sinto ter a idade que tenho. Acho que a idade real não tem muita importância, talvez por haver no meu círculo afectivo gente que ocupa uma faixa etária entre os catorze, quinze, e os oitenta e tantos, ou até os noventa e quatro da minha mãe.
A ela devo tudo (ou perto disso). E nunca saberei agradecer-lhe suficientemente o facto de me ter trazido à vida neste dia 7,  - que tem para mim um significado tão especial - , de me ter mostrado o mundo e dado asas para também poder ser e descobrir sozinha, de em silêncio me ter dado tantas lições de generosidade, de aceitação, de alegria e de vontade de viver.
Nasci no sétimo dia do terceiro mês de um ano bissexto, entre as oito e as nove da noite, e por isso sou abençoada; porque o sete reúne em si o três, número da perfeição, - princípio, meio e fim, pai, filho e espírito santo -  e o quatro (quatro elementos), sendo assim em si mesmo o número que simboliza  a união entre o céu e a terra, a alma e o corpo, o espírito e matéria.
Sendo do signo de Peixes, e embora não ligando muito a essas coisas de astrologias e outras pseudociências, tenho muitas das características que, com toda a razão ou sem razão nenhuma, se lhe atribuem: sou sensível e emotiva de forma imoderada, muito dada a afectos e meiguices,  carinhosa, romântica, desconcertante, razoável e excessiva, leal e desbocada, organizada, sonhadora e todas as contradições, defeitos, manias e vulnerabilidades que me tornam única, não melhor nem pior que ninguém, mas apenas eu.
Com o tempo, aprendi a aceitar-me como sou e a gostar de mim até com o que não gosto. Aprendi a serenidade e o prazer do vagar, que nos faz viver cada momento de uma forma muito mais plena. Amo as línguas, as artes e as letras, como gosto de pessoas e de cidades, de mar e de sol, de ouvir chamar o meu nome e de andar a pé, de abraços apertados e de festas no cabelo, de regressar a casa, de conversas entre amigos e de manhãs de preguiça, do primeiro café do dia, de voltar a Paris e do dia dos meus anos.
Sinto-me muito feliz e agradecida por tudo o que sou, tenho, e posso ainda viver e aprender, na inquieta procura de tudo o que me falta ver e experimentar. Mas, hoje, é dia de beijos e abraços e de todos os mimos e amor a que tenho direito, porque este dia é todo meu. E porque viver é maravilhoso.

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