sexta-feira, 10 de maio de 2013

O(s) meu(s) bairro(s)


Há três bairros aos quais me sinto profundamente ligada: As Avenidas Novas, onde nasci e vivi os meus primeiros vinte anos e que ainda hoje continua a ser o sítio onde me sinto em casa. Mas, disso, já falei aqui.
Vinte anos é também mais ou menos o tempo de vida que levo em Alfragide, que não sendo exactamente um bairro da minha Lisboa é ali mesmo ao lado e é um sítio muito simpático para viver. E, por causa da escola, conheço quase toda a gente e toda a gente me conhece, o que dá mesmo aquela ideia do ambiente caseirinho de bairro, com tudo o que isso pode ter de positivo e negativo.  Ao fim deste tempo, no entanto, já me habituei a todos os olhares, a ouvir dizer "olha, a Mouzinho!", ou a ser cumprimentada por pessoas que não sei bem quem são.
Alfragide, para mim, não é a "Quinta Grande", cheia de prédios enormes e incaracterísticos, como noutro lugar qualquer; é a parte antiga de Alfragide sul, a imensa avenida D. Luís I, as torres do arquitecto Conceição e Silva; e o meu largo, as árvores, a relva e o sossego; e os pássaros a cantar e os cheiros da Primavera, quando saio de manhã, muito cedo. É o café do outro lado do largo, onde mal chego tenho já o jornal e o café à minha espera, onde apesar da formalidade do tratamento se sente o à-vontade que só existe entre velhos amigos. E tantas outras coisas que me fazem sentir bem naquele lugar e me trazem o sentimento de que estou a chegar a casa, quando começo a aproximar-me. Ou quando ouço a palavra "Alfragide" e me vem aquela sensação de que esse é um lugar que me pertence e a que pertenço.
E depois há também o Bairro de Alvalade, onde um dia deixei preso o meu coração, apesar de nunca ter morado nele. Mas foi onde vivi um grande amor e é onde tenho trabalhado nos últimos três anos. Gosto das ruas de passeios largos e das lojas antigas, das pastelarias e das mercearias,  de passear pela Avenida de Roma, da mistura do novo e  do antigo em  coabitação pacifica, paradigma da imagem de uma certa Lisboa, moderna e conservadora em simultâneo.
E, apesar de me ser uma bairro tão familiar, tenho descoberto, nos últimos tempos, pequenos pormenores em que nunca reparara antes, o que permite fazer minhas as palavras que li hoje no blog Pé de Meia de mfc: Há sempre um novo e diferente olhar que nos escapou da última vez em que estivémos num lugar, qualquer que ele seja. Surpreendemo-nos sempre  (...)
E dou comigo a pensar se não é mesmo isso que não deixa morrer nunca este amor imenso que me liga a Lisboa.

16 comentários:

  1. Eu conheço relativamente bem a zona de Alfragide, até porque moro perto (Miraflores). Confesso que nunca percebi bem o quase histerismo que a dada altura existiu pela Quinta Grande. A mim parece-me apenas mais uma de muitas zonas à volta de Lisboa, cheia de prédios altos cada um com a sua forma e virado para o seu lado, construída nos tempos áureos da especulação imobiliária em que o objectivo era ver quem construía mais depressa e mais à maluca.
    A zona sul que fica por cima do Ikea já é diferente, afinal também é mais antiga.
    Por vezes esquece-mo-nos que mesmo aqui por estas zonas temos paisagens fantásticas, como por exemplo as vistas para o rio (i.e. nas zonas altas de Algés), Monsanto ou para a serra de Sintra. Vistas essas devidamente estragadas em muitos casos pela a construção desenfreada. É pena, mas pronto, o melhor é não falar mais sobre isto que fico já chateado...

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    1. Somos então quase vizinhos, Sérgio.
      Quanto à "Quinta Grande", para as pessoas de Alfragide, que eu também acabo por já ser, uma coisa é Alfragide e outra a Quinta Grande. Ou seja, há a parte norte mais antiga também, aquela das vivendas e depois há a Quinta Grande que já não é "Alfragide", porque nem um pouco se assemelha ao resto. E não é tanto uma questão de paisagem, porque há lá de cima vistas fantásticas sobre o rio. É mesmo porque não tem aquela familiaridade da vida de "bairro". Eu que sou tão apegada às Avenidas Novas, acho que se voltasse a viver agora nesse lugar da minha infância ia ficar desiludida, porque o bairro está muito diferente e mais incaracterístico.

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  2. As avenidas novas + Alvalade são a parte mais bela de Lisboa. Gostei de viver 20 anos no Restelo pelo ambiente e sensação de liberdade que dava , uma moradia enorme, oito filhos, recordações inesquecíveis. Mas depois passámos para o centro e gostei imenso de poder gozar do bulício e da qualidade de vida que nesses anos ainda havia: cinemas, restaurantes, livrarias, etc.
    Mais tarde morei no Lumiar e também aí se vivia bem, embora tivesse de me deslocar para o M. Amália onde era professora. Adorava a Rua Rodrigo da Fonseca, onde nasci, a rua do meu liceu, pertinho da casa dos meus avós, onde almoçava muitas vezes.
    Agora moro na zona mais bela do Porto, O campo Alegre, é uma verdadeiro jardim nesta época do ano, mas lojas não tem....

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    1. Não sei se são a parte mais bela de Lisboa, Virgínia, porque eu acho lindas também a Baixa e a Senhora do Monte e a Estrela/Lapa, por exemplo.
      Mas, a mim como a si, são dois bairros que nos dizem muito. O Saldanha continua a ser a minha casa, por exemplo.

      O Campo alegre não sei como é. Mas, se tudo correr bem, em Junho passo pelo (seu) Porto ;)

      Beijinho

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  3. A Baixa é linda, mas referia-me a lugares para viver. O meu filho viveu perto do Largo do Caldas na Alfama e adorou, embora fosse uma casa velha só com um quarto e cozinha. Tudo depende da vida que se leva e do momento que se atravessa. Com filhos é uma coisa, sem filhos é outra. A trabalhar é uma coisa, reformados é outra. Mas enquanto houver transportes públicos, serei feliz em qualquer sítio.....:)))

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  4. Sou suspeito. Nasci e vivo na Praça de Alvalade. Já vivi noutros lugares, mas fora do país, porque cá foi sempre no antigo Largo Frei Luís de Sousa, hoje Praça de Alvalade. Tinha o grupo do Vá Vá, o da Mexicana, o da Suprema e por aí fora. E a Avenida da Igreja? Hoje é uma gracinha - é a avenida com mais farmácias e pastelarias de Lisboa - com os melhores gelados de Lisboa na Conchanata, a primeira loja gourmet (A Charcutaria Riviera) e o melhor mercado do país, o Mercado de Alvalade. A Avenida de Roma decaiu muito, mas a da Igreja está um mimo.

    Beijinho :)

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    1. Frequentamos os mesmos lugares, Paulo. Quantas vezes já nos teremos cruzado? O bairro de Alvalade é um sítio onde me sinto feliz. E a Avenida da Igreja é onde passo todos os dias à hora de almoço, para ir ao multibanco, ao quiosque, à Farmácia, tomar café, ou simplesmente apanhar um bocado de sol. À sua porta, portanto ;) Ahah - quem diria...

      Beijinho :)

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  5. Bom tarde,
    Muitos parabéns pelo seu blogue. Realmente é um deleite ler este blogue, tão interessante e tão bem escrito, onde a Língua Portuguesa é tão bem tratada. Embora seja leitora assídua da blogosfera, não tenho por hábito comentar o que vou lendo. Contudo, hoje, não pude deixar de o fazer. Porquê? Porque estes bairros são também os “ meus” bairros.
    Vivi os primeiros anos da minha vida no Bairro de Alvalade, por trás da igreja São João de Brito. Aí, frequentei o ciclo preparatório, na Escola Marquesa de Alorna e, mais tarde, o liceu Rainha Dona Leonor até ao 9º ano. Um bairro muito agradável sem dúvida e, na minha opinião, o melhor para viver em Lisboa. Com muitos espaços verdes, onde as crianças podiam brincar livremente (pelo menos naquela altura). Depois havia a proximidade com a Av. de Roma e a Praça de Londres, que atualmente decaíram um bocado devido à crise, mas que naquela altura tinham uma dinâmica muito própria e presenteavam-nos com tudo aquilo que a sociedade de consumo nos podia proporcionar.
    Com 15 anos mudei-me para Alfragide Sul – Torres de Alfragide – onde ainda resido. É um bairro bastante peculiar, onde conheço muito gente e onde fiz muitos e bons amigos, sendo que a grande maioria já não vive no bairro. Aliás, é difícil caminhar sem nos cruzarmos com alguém de quem gostamos: seja o velho amigo que vive dois prédios acima, ou a amiga que já não vive em Alfragide mas foi visitar os pais, a vizinha simpática a quem gostamos de acenar, alguém que conhecemos de toda a vida ou a rapariga que desconhecemos e só agora descobrimos ter-se mudado para o andar de cima. Poderia discorrer longa e detalhadamente porque gosto tanto do meu bairro, explanar as emoções que me desperta ou a razão que suporta o conforto que sinto em viver aqui. Podia explicá-lo de variadíssimas formas mas, como muitas vezes sucede, a melhor opção é a mais simples - cingir-me ao essencial - , neste caso às duas razões pelas quais gosto do meu bairro: porque é o meu (sinto-o como tal) e, acima de tudo, porque aquilo que o descreve fielmente, um verdadeiro bairro, com as suas relações de vizinhança e de proximidade.
    Finalmente as Avenidas Novas é o bairro onde trabalho. Há 19 anos que diariamente me desloco de Alfragide para o Campo Pequeno (Av. da República). Adoro esta zona. Tem ótimas acessibilidades, um comércio fantástico, cafés e restaurantes para todos os gostos, onde o tradicional e o moderno se combinam em perfeita harmonia.
    Como vê, temos muito em comum e, por isso mesmo, não quis deixar de lhe dar conta disso mesmo. Provavelmente até já nos cruzamos algumas vezes!!!
    Nota: por razões profissionais fui obrigada a adaptar-me ao novo Acordo Ortográfico.
    Margarida

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    1. Muito obrigada pelo que diz do meu blog, Margarida, em primeiro lugar. ;)
      Gostei muito de saber que somos vizinhas (eu moro no Largo da "Vanda", um bocadinho mais acima da sua casa) e que por isso, seguramente, por ali ou no 54, já nos teremos cruzado inúmeras vezes e se calhar até nos conhecemos "de vista".
      Temos muito em comum, sim, pelo menos os "nossos" bairros.
      Ainda bem que se deu a conhecer! Foi um prazer...

      Volte quando quiser, que uma das coisas que a blogosfera tem de bom é esta liberdade de falar ou ficar em silêncio, conforme nos apetece.

      Um beijinho, vizinha! ;) eheh
      Isabel

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  6. Muito obrigada, Isabel
    Gostava, se for possível, que me enviasse o seu contacto electrónico.
    Beijinho
    Margarida

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    1. Tem um e-mail de contacto no meu perfil, mas é este: mouzinho.isabel@gmail.com

      Beijinho

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  7. Bom dia amigos! Encontrei este Blog e as várias referências a Alfragide, por mero acaso.
    Achei curioso porque "nasci" em Alfragide (os meus pais mudaram para lá após o meu nascimento), cresci em Alfragide e não morando agora em Alfragide, espero um dia voltar lá para aí voltar a viver e eventualmente morrer.
    Adoro Alfragide, não só porque aí passei a minha infância e juventude, mas também porque é tudo aquilo que neste Blog é dito, e muito mais!
    De facto Alfragide, é a zona sul, com os seus jardins, com as suas calçadas, os cafés (a saudosa Vanda e a "Galeria"), é a familiaridade dos vizinhos, quase provinciana, a proximidade a Lisboa e a Monsanto, ao Tejo e ao mar..."
    É um local completamente distinto, de outros bairros e até da parte norte, vulgo Quinta Grande, completamente incaracterística, igual a muitos outros subúrbios.
    Parabéns pelo seu Blog e obrigado pelas recordações que me trouxe!
    Cumprimentos. David

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    1. Obrigada eu, David, não imagino como foi descobrir este post que tem mais de dois anos. Sou uma Alfragidense de coração de facto e sinto-me muito bem aqui.
      Agora que vou começar a trabalhar na Estrela já no dia 1, toda a gente me diz que deveria pensar em mudar-me lá mais para perto, mas duvido que o faça.
      Vou todos os dias à "Galeria", há vinte anos, mais ou menos. Se calhar até já nos cruzámos por lá...
      Cumprimentos
      Isabel M.

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  8. Olá Isabel

    Não sou do sei bairro, mas hoje ao visitar um imóvel deparei me com um bairro simpático, com zonas verdes, aparentemente calmo, uma zona óptima para começar uma vida a dois e quem sabe a 3 e a 4 :)
    Sinceramente não estava a espera, numa curva à direita da Estrada do Zambujal, pudesse haver um bairro tão catita. Ignorância minha certamente. Gostaria que me desse o seu feedback sobre o bairro: é seguro? tem problemas com vandalismo? tem bairros sociais problemáticos na envolvência? escolas e creches há boa oferta? há cafezinho? mercearia? transportes só autocarro?

    Cumprimentos
    Sílvia e Carlos

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    1. Fala de Alfragide, que já não é o meu bairro, mas conheço-o bem, porque vivi nele durante cerca de 20 anos. É de facto um sítio agradável para viver, sossegado e perto de tudo.
      Tem tudo aquilo de que fala. Não é problemático excepto nas imediações do Bairro do Zambujal.
      Eu gosto mais da parte sul e não tanto da Quinta Grande que é mais incaracterística e igual a todo o lado.
      Há também transportes da Rodoviária e Vimeca, além da Carris (carreiras 754 e 799). Aconselho vivamente...

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