sábado, 22 de março de 2014

Suárez



Quem me conhece sabe da minha paixão por Espanha e da atenção com que acompanho a actualidade e a vida cultural deste país de que me sinto sempre tão próxima. Foi por isso com tristeza que soube hoje do súbito agravamento do estado de saúde de Adolfo Suárez.
Suárez  é uma figura incontornável, com lugar de destaque na História espanhola. O seu nome ficará para sempre ligado à transição pacífica da ditadura para a democracia. Foi presidente do governo de 1976 a 1981. É a ele e ao Rei Juan Carlos que se deve uma Espanha  tal como hoje a conhecemos: livre, moderna e empreendedora.
Como quase todos os espanhóis, também eu tenho por ele um carinho especial.
Com 81 anos, Suárez sofre de Alzheimer há onze. Lembro-me de há alguns anos, já não sei exactamente quantos, ter visto uma entrevista do filho, Adolfo Suárez Llana, num programa de televisão chamado Las Cerezas que me impressionou: com uma força e uma serenidade fundadas na fé, falou da doença do pai e do modo como todos viviam com ela. E disse uma coisa que na altura não me tocou particularmente, mas que agora recordo muitas vezes, sobretudo aos Domingos, quando tenho que cuidar da minha mãe com o mesmo carinho e cuidado com que ela cuidou de mim. O que ele disse foi mais ou menos isto: temos que aceitar que vida muda e transforma muita coisa; e que chega uma altura em que nos cabe a nós pegar na mão dos nossos pais e conduzi-los e ampará-los como um dia eles também fizeram connosco.
 O mesmo filho de Adolfo Suárez, o habitual porta-voz da família,  anunciou ontem em conferência de imprensa o fim iminente do seu pai. E, emocionando-se, disse: está en manos de Dios
Suárez é um exemplo de classe e de lealdade ao Rei, que um dia disse dele: Sin su ayuda, seguramente España no habría volado ni tan alto ni tan lejos.
Dizem também os que com ele privaram que tinha uma grande sentido de Estado e que era um conciliador, generoso, inteligente e decidido. Um referência, pois, -  em tudo tão diferente do seu homónimo português...
Com o desaparecimento de Adolfo Suárez, cuja ligação à vida é neste momento muito ténue, perde-se uma das grandes figuras do século XX, não apenas de Espanha, mas da Europa e do mundo.
Espanha vive este exacto instante expectante, emocionada e quase incrédula, pendiente  desta notícia que ninguém gostaria de receber.
E eu, hoje, sou espanhola também. E como li num jornal espanhol: Lo único que puedo decirle a Adolfo, su hijo, es que su padre hizo lo más difícil: elevar la mirada por encima de si mismo. Que es mucho más de lo que jamás harán algunos. 

2 comentários:

  1. Os bons não 'conseguem esperar'.
    Deixam a sensação que têm pressa de partir.

    Beijinho, Isabel, e bom domingo. Ou o que dele resta.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Soube agora que Adolfo Suárez morreu às três de tarde :(

      Obrigada. Para si também. Beijinho

      Eliminar