segunda-feira, 7 de julho de 2014

Acabar assim?

 
Em certos dias não podia evitar a saudade do tempo em que o amor lhe enchia as horas e os dias e, virado do direito ou do avesso, lhe atravessava o corpo inteiro. O tempo em que o desejo lhe ardia na pele e as vontades  se adivinhavam no fundo dos olhos, ou ao mais leve toque da ponta dos dedos. Em que até  as esperas, a dor e o desânimo lhe pareciam sedução, na doce certeza recíproca de não poderem perder-se. Nem afastar-se. Porque se sabiam perto, mesmo na ausência e na distância, unidos para sempre naquela cumplicidade linda que marcava as suas vidas, e mais ninguém podia saber quanto era excessiva e desconcertante, misteriosa e profunda, forte e frágil; e de que modo valia a vida, no momento do abraço sem pressa em que se perdiam para se encontrar, ou na tranquilidade branda que chega depois da exaltação do amor.
E procurava entender o que pudera ter acontecido que viera alterar e corromper aquele encantamento, hesitando entre o que poderia doer mais: uma ruptura súbita e definitiva, ou um lento e penoso distanciamento, ao mesmo tempo que gostava de acreditar, ainda, lá bem no fundo, que nunca nada os conseguiria realmente separar.
Mas depressa afastava a tristeza, engolia as lágrimas, sacudia o cabelo e voltava a levar a vida para a frente, embrenhando-se nos mil e um afazeres do quotidiano, deixando-se encantar pelas pequenas alegrias que podiam também trazer-lhe felicidade, ou até enternecer, às vezes, pelo brilho e a doçura de outros sorrisos e de outros olhares.

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