quinta-feira, 17 de julho de 2014

Confiança e intuição



Li no jornal, num daqueles estudos pseudocientíficos de credibilidade mais ou menos duvidosa, que tendemos a ser amigos de pessoas que têm genes semelhantes aos nossos.
Não acredito nada nestas coisas, mas penso muitas vezes em por que obscura razão nos sentimos muito próximos de certas pessoas, que às vezes mal conhecemos, e achamos que alguma coisa nos liga ainda que não saibamos explicar o que é, e cremos intuitivamente que podemos confiar nelas e abrir-lhes o coração, enquanto com outras não acontece o mesmo; e por mais simpáticas, doces e queridas que se nos mostrem, não nos tocam da mesma maneira.
Empatias, afinidades, interesses ou valores comuns e o mais que for podem explicar em parte a questão; mas há também, se calhar, em tudo isto, uma boa dose do que há de mais inexprimível no sentimento, naquela zona sombria e secreta que está para além de todas as racionalidades e de todas as palavras. E que nos leva a afeiçoarmo-nos só porque sim, por causa de uma sintonia que nos enche a alma, de um mistério qualquer que nos enternece e encanta, que começamos por saber apenas no coração e depois se vai confirmando em subtileza, na partilha que permite que a intimidade e a estima se desenvolvam devagar, até que a cumplicidade e os laços se instalem definitivamente.
Como a toda a gente, a vida também me foi deixando cicatrizes e nódoas negras, que não fazem de mim, no entanto, uma pessoa mais céptica ou mais desconfiada; porque não é essa a minha natureza. Apenas só, talvez, mais cautelosa. E, na verdade, a minha intuição também já me enganou algumas vezes; para o bem e para o mal.
Por isso não me aflijo: deixo que o tempo e os afectos vão fazendo o seu caminho e, como sempre, sigo o que me diz o coração. E o resto logo se vê...

(Fotografias de José Manuel Durão e de Paulo Abreu e Lima)

6 comentários:

  1. E faz muito bem, minha amiga. Esse coração é até muito ajuizado!

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    1. Bom, mais ou menos... Às vezes ajuizado e outras nem tanto... :))

      (Já tenho saudadinhas suas, Helena! Temos que combinar qualquer coisa para daqui a nada ;))

      Beijinho

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  2. Vou escrever uma coisa politicamente muito incorrecta: estas afinidades que descreve passam muito pelo meio social e cultural. Passado esse crivo pode ainda existir, ou não, as empatias das vivências e das sensibilidades. Não concorda, Isabel...?

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  3. Concordo, sim, e não acho nada que seja politicamente incorrecto.
    O meio social e cultural é talvez um primeiro patamar, de certo modo; e depois aquilo a que chama "vivências e sensibilidades".
    Ainda assim, Paulo, sendo certo que não temos de gostar de toda a gente, nem podemos, o que me surpreende e intriga é por que razão há pessoas a quem nos "ligamos" por intuição e sei lá que mais, e outras, mesmo muito "adoráveis" que não conseguem tocar-nos. Percebe?

    Beijinho :)

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    1. Ora, Isabel, somos nós que escolhemos de quem gostamos e não os outros que o fazem por nós (por mais adoráveis que possam ser); logo, estes sentimentos são inalienáveis. Não obstante poderem ou não ser correspondidos. Depois, no caldo destas afinidades, ainda surge algo que muito considero: admiração. Tendemos a gostar mais por quem nutrimos admiração.

      Beijinhos :)

      (Ainda açorianos...)

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    2. Será isso, pois. Não sei, tenho pensado nisto ultimamente; mas o melhor é, se calhar, nem pensar muito e só deixar-se ir pelo coração. ;)

      Beijinho :)

      (Imagino as lindas fotografias açorianas que já terá...E depois quero ver - algumas, pelo menos :)) )

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