quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Vergonha(s)



Decididamente, hoje, dedico o dia às palavras dos outros, porque o que encontro nelas, muitas vezes, se assemelha ao que eu penso também. Este é um assunto que tenho evitado, mas que não ignoro.
No blogue Espumadamente, de Nelson Reprezas, encontrei este texto, intitulado "Já envergonha", que tomei a liberdade de copiar para aqui.
E, por coincidência, também Vasco Graça Moura (uma vez mais!) escreve no DN mais ou menos sobre o mesmo tema, numa crónica intitulada "Duas vergonhas nacionais".

Já envergonha 

Faz-me muita confusão (mas não devia…) perceber que o meu país está gradualmente a ficar refém de um limitado número de desordeiros que se entretêm a ocupar ministérios, Assembleia da República, interromper actos públicos e insultando governantes em linguagem de carroceiros (de carroceiros malcriados, porque os há decentes). 
A comunicação social resfolega com isso e vai transmitindo estes espectáculos com uma linguagem adequada, qual seja aquela língua de trapos que aprenderam na faculdade ou, de outro ângulo de análise, transmitindo um sentido aos acontecimentos que está longe de ser correcto e verdadeiro. Isto não está bem. O país não é isto e eu diria mais. Os tremendos sacrifícios a que a população em geral tem vindo a ser submetida mereciam deste grupelho de gente comandada pelo PC, por via da CGTP e da anódina e irrelevante UGT, mais respeito. Porque são gente que sofre na pele os efeitos de uma crise para a qual não contribuíram, salvo, quiçá, o voto que depuseram num partido irresponsável como o Partido Socialista e que, em muitos casos, não têm sequer a garantia de um posto de trabalho, como tem a maioria destes ditos sindicalistas e demais figurantes. 
Há ainda as elites. As aulas magnas, os novos partidos, as esquerdas renovadas (muito se renovam as esquerdas para dizerem sempre a mesma coisa…) e os intelectuais que nos enchem a cabeça com esta conversa redonda do dia-a-dia e que nos enche as televisões e que, tal como os sindicalistas e outros figurantes, estão bem empregados, ou «pensionados», mas acham imensa graça pairarem na ribalta dos noticiários com ideias mais ou menos arrevesadas sobre a putativa felicidade do povo português. 
Já cansa. Os portugueses não merecem esta gente. Merecem que a crise passe depressa, para o que têm já demonstrado uma notável acção participativa e continuam impermeáveis até aos apelos à violência das elites que querem correr o governo à paulada ou dar tiros parecidos com o que matou o rei D. Carlos. E a pergunta, final, é. Na verdade, acções como ocupar ministérios ou fazer greves já nem se sabe porquê, são acções legais? Parece que agora querem pôr mais vinte polícias em cada ministério. E isso significa o quê? Que a ocupação era ilegal e havia polícia a menos? Mas se era ilegal, estão á espera de quê para deter os Arménios que aparecem de dez em dez minutos nas TV’s, os Lourenços pauliteiros ou mesmo as Rosetas ressabiadas?

Duas vergonhas nacionais 

(...) A segunda vergonha nacional traduz-se na já consabida propensão do Dr. Mário Soares para a obscenidade política. (...) por se tratar de um ex-presidente da República a quem não ficava mal um pouco mais de compostura. Não me faz impressão nenhuma que uma aula magna inteira vocifere em coro com ele. Podia ser até um estádio de futebol. O que me faz a maior das impressões é que alguém, que foi presidente da República Portuguesa ainda não há muitos anos, salte para a ribalta nos termos destemperados em que o fez. Mais nenhum ex-presidente da República, mesmo que com críticas pontuais ao actual, se achou justificado para fazê-lo. Tratou-se de uma tentativa insensata de manipulação das massas:não há nenhum mecanismo constitucional que permita a destituição pretendida - logo, não é em nome do estado de direito, nem da legitimidade constitucional, mas da barafunda revolucionária que o dr. Soares e alguns apaniguados pretendem falar. (...) A verdade é que, em nenhum momento do seu mandato, Cavaco Silva deixou de cumprir ou violou a Constituição. Toda a gente o sabe. O que é deveras deprimente, não é que a esquerda finja ignorá-lo, é que o dr. Soares a acompanhe nessa vergonhosa ficção.

(Vejo agora que também HSC fala disto, hoje, no seu Fio de Prumo, com a sensatez que a caracteriza. Para ler aqui)

4 comentários:

  1. Não falo usando o efeito eco. Isto é, baseado no que os outros dizem.
    Falo sim e para criticar o que já foi suficientemente criticado mas que parece continuar a passar ao lado de muita gente que, convenhamos, já tem idade para ter juizo.

    A Assembleia da República não deveria ser uma espécie de lugar de culto?
    É verdade que por lá existem, com ordenado bem pago, pessoas que desde logo não garantem a sanidade do local mas, fazer daquilo um tipo de barraca de feira, não cabe na cabeça de qualquer ser ... pensante.

    Quanto a Mário Soares, não me apetece perder tempo com gente fora de validade.

    Beijinho, Isabel, e haja pachorra!

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    1. Neste caso, eu baseio-me no que os outros dizem, porque eles dizem o que eu penso e, se calhar, dizem-no melhor do que eu diria. Por isso lhes "dou voz" aqui, em vez de estar a dizer o mesmo por outras palavras.

      De resto, estamos mais ou menos de acordo.
      Beijinho também para si, António. E continuação de melhoras.

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  2. Há uns anos, estava uma senhora a ser entrevistada com uma criança ao colo, em direto nos telejornais da noite à porta da instituição que paga as bolsas de investigação (FCT), a queixar-se que ainda não tinha recebido a bolsa a que tinha direito esse mês, e que tinha que pagar isto e aquilo, não tinha dinheiro para dar comida ao filho, etc, e que portanto iria acampar ali à porta com o filho até que lhe “pagassem aquilo que tinha direito, o estado isto e aquilo, não há direito, é uma vergonha”, etc.
    No final, assim que as televisões saíram, foi-se embora... Num Mercedes... Afinal não passou ali a noite acampada. Nisto tudo, o qual será a definição de verdade? Será que se eu acampar na rua alguma televisão me vem entrevistar em direto nos telejornais? Então o que fez com que naquele caso especifico isso acontecesse? Pois, parece-me que numa sociedade de informação, o conceito de verdade é de certa forma "aquilo que passa", e daí a propensão destas manifestações para montar um bom espetáculo para passar nas televisões e para os jogos de ilusão onde para as câmaras se dá a entender que são muitos mais do que aquilo que realmente são, o que, em verdade é uma forma inteligente de manifestação, até porque o que "não passa", simplesmente não existe: é vácuo.

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    1. A comunicação social é, de facto, cada vez mais uma vergonha também.

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