domingo, 20 de julho de 2014

Ainda o Tóino...



Talvez porque quando era pequena havia todos os dias pelo menos dois jornais lá em casa, ainda no tempo dos matutinos e  vespertinos, habituei-me à leitura diária do jornal. De tal maneira que, mal saio de casa,  não dispenso a sua compra, num gesto obrigatório que acompanha o primeiro café do dia. E, por isso, raramente consulto as versões on-line. Não me dá jeito nenhum...
Sou uma daquelas pessoas à antiga, que acha que um jornal, como um livro, é para ser lido em papel, para se segurar nas mãos, mesmo que as suje ligeiramente, porque ambos têm um cheiro e um toque próprios. E porque há nos dedos a deslizar pelas páginas uma quase sensualidade, que permite estabelecer uma relação entre a leitura e o corpo; e assim implicar-nos mais. Não importa!...
Tudo isto porque, hoje, ao ler o DN, como de costume, encontrei,  no artigo de opinião de Alberto Gonçalves, um texto com o qual concordo em absoluto. E que não resisto a transcrever aqui:
António, um rapaz de Lisboa
A cada semana, António Costa revoluciona a ciência económica. Primeiro foi a tese de que a riqueza é preferível à austeridade, inovadora aplicação na macroeconomia do princípio de Maria Antonieta. Depois, descobriu que o problema não é o excesso de licenciados, mas a falta de empregos para licenciados (criam-se os empregos e a chatice fica resolvida). Agora, explicou a uma embevecida plateia de sindicalistas que "não há crescimento sustentável com endividamento, mas também não há crescimento sustentável com empobrecimento", sentença que se comenta sozinha.
Se não se aproximassem as férias, o Dr. Costa ainda estaria a tempo de dizer que: 1) o investimento público é melhor do que o privado excepto nos casos em que o investimento privado é melhor do que o público; 2) o Estado social é sustentável desde que saia baratinho aos cidadãos; 3) Portugal não deve sair do euro enquanto os euros entrarem em Portugal; 4) pelo menos na perspectiva dos destinatários, os salários altos são preferíveis aos salários baixos; 5) o Pato Donald é um boneco.
Brincadeiras à parte, o que é isto? Não é de agora que Portugal não se pode queixar em matéria de produção de políticos absurdos. Mas entre as nulidades sem uma ideia na cabeça e o Dr. Costa, em cuja cabeça fervilham centenas de ideias desconchavadas, vai uma diferença considerável. Já nem falo da tentativa de vender o homem a título de salvador da pátria: falo do homem propriamente dito e da deprimente comparação com aqueles a quem sonha suceder. Ao pé do Dr. Costa, Passos Coelho passa por um modelo de estadista, Sócrates por um sujeito quase ponderado, Santana por um governante responsável, Barroso por um gigante do pensamento, Guterres por um paradigma da racionalidade financeira e Cavaco, ele sim, pelo salvador da pátria que nunca foi. Perante o Dr. Costa, até o jovem António José Seguro parece habitar o mesmo planeta que os restantes mortais.
Em suma, o Dr. Costa é um embaraço ambulante. Logo, provavelmente será depois do Verão o líder do PS e, se os amigos o mantiverem calado entretanto, hipotético primeiro-ministro no ano que vem. Um pessimista vê à distância e, na lógica do "depois de mim virá", tende a imaginar que espécie de calamidade pode aparecer ao País após o Dr. Costa. Um optimista desconfia que, após o Dr. Costa, é improvável haver País.

Eu, que sou uma optimista e gosto sempre de encontrar o lado positivo de todas as coisas, só consigo ver, no que nos espera no imediato, a vantagem de os lisboetas se verem livres dele.
O pior é o resto: é que, quanto ao País,  - e aqui não resisto à piada fácil - o futuro parece anunciar-se bem negro...
 

4 comentários:

  1. Concordo com as mãos no papel e com o texto de Alberto Gonçalves sobre o parlapiê do Doutor Costa que é, acima de tudo, bastante escanifobético e que nos remete para o buraco negro, já experimentado no tempo dos seus pares.
    Olhe Isabel, nem sei que lhe diga...
    Beijinho :)

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    1. Talvez ainda "mais negro" do que o dos seus pares...

      O que me faz mesmo muita confusão é quem não vê, ou não quer ver, no que vamos meter...

      Beijinho, Teresa!

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  2. Eu sou mais cauteloso. A realidade é que também temos um PM que prometeu nas eleições que não subia mais impostos, não cortava mais salários, etc., etc., etc., e depois o que fez mesmo? Não estava informado da situação do país? Cantigas. O Costa é mais um: promete o que sabe que não vai ser capaz de cumprir, mas parece-me que o mal é geral. No final, vivemos num contexto em que o poder económico há muito que se sobrepôs ao poder político, vivendo subjugado a este. E é nessa posição de povo subjugado que vivemos e vamos viver durante anos. O truque de quem subjuga é simples: apanham-nos quando estamos com as calças na mão e “ajudam-nos” sob condições à partida impossíveis de cumprir. Como tal, resta “portar-nos bem” para no momento de comunicar o nosso falhanço (de não estendida e lágrimas nos olhos), tenham pena de nós e lá nos façam o “favor” de aceitar um “revisão” dos objetivos. Mas só porque nos portámos bem, afinal chumbámos no teste mas ganhámos o direito a um 9,45 tirado a favor. Claro que para aceitarem rever as condições exigem outras e… Pasme-se… Igualmente impossíveis de cumprir…
    No meio disto lá aparecem uns tantos senhores a dizer que com eles é que vai ser, que chega ao pé dos putos grandes, faz voz grossa (tipo a imitar o pai) e prontos, fica a mandar na brincadeira... Talvez, talvez…

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    1. Sérgio, não me leve a mal, mas nem sequer me está a apetecer responder ponto por ponto ao que diz aqui.
      Digo-lhe só isto: qualquer coisa é melhor do que soluções "à socialista..."

      E este, em particular, consegue se calhar ser ainda bem pior que os seus antecessores (se é que é possível...)

      Mas, infelizmente, é provável que tenhamos todos a oportunidade de ainda ver isso :(

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