terça-feira, 8 de julho de 2014

Não vamos calar-nos!...


Pode ser exagero meu, mas tenho a sensação que, desde o desaparecimento de Vasco Graça Moura, se fala menos na aberração do AO. 
Felizmente, apesar de um certo silêncio relativo à questão, que lentamente vai começando a alastrar e a tornar-se dominante, naquele encolher de ombros tão tipico da maneira de ser portuguesa para quem quase tudo "tanto faz", o que permite que hoje se aceite qualquer coisa - incluindo textos que misturam as grafias pré e pós-acordo -, ainda há quem se revolte e se indigne, e continue a falar nisso. 
É o caso de Pedro Correia, que é também um excelente defensor da língua portuguesa, (como o Vasco e tantos outros), que escreveu o fantástico Vogais e Consoantes Politicamente Incorrectas do Acordo Ortográfico (que deveria passar a ser leitura obrigatória) e que ainda hoje no "Delito de Opinião" se referiu ao assunto nestes termos: 
(...) As sucessivas reformas da ortografia portuguesa - já lá vão quatro no último século - são um péssimo exemplo de intromissão do poder político numa área que devia ser reservada à comunidade científica. Cada mudança de regime produziu uma "reforma ortográfica" em Portugal. Para efeitos que nada tinham a ver com o amor à língua portuguesa, antes pelo contrário. Cada "reforma" foi-nos afastando da raiz original da palavra, ao contrário do que sucedeu com a esmagadora maioria das línguas europeias - como o inglês, o francês, o alemão e em certa medida o espanhol. A pior de todas essas reformas foi a de 1990 que separa famílias lexicais produzindo aberrações como "os egiptólogos que trabalham no Egito[sic] são quase todos egípcios" ou "a principal característica dos portugueses é terem um forte caráter[sic]". Esta ruptura com a etimologia ocorre, convém sublinhar, num momento em que nunca foi tão generalizada a aprendizagem de línguas estrangeiras entre nós. Assim, enquanto os políticos de turno pretendem impor a grafia "ator"[sic] à palavra actor, os portugueses continuarão a aprender "actor" em inglês, "acteur" em francês, "actor" em castelhano e "akteur" em alemão. Não adianta deitar fora a etimologia pela porta: ela regressa sempre pela janela. Através de idiomas nunca sujeitos aos tratos de polé de "acordos ortográficos" destinados a produzir legiões de analfabetos funcionais. 

Achar que isto não é importante, parece-me de uma grande insensibilidade e inconsciência, para dizer o mínimo. Resta a certeza de que os que estão contra esta enormidade e se recusam a aplicar o "Aborto Ortográfico" (e que, afinal, nem são assim tão poucos) não se calarão nunca.

4 comentários:

  1. Eu cá continuo a escrever, com prazer, como sempre me foi ensinado... e acho que o AO é uma moda que não vai vingar.
    Beijinhos

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    1. Eu também continuo a escrever em Português, não sei se é só uma moda, antes fosse...

      Beijinho

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  2. Aqui em casa,novos e velhos,todos escrevemos em Português, assim como a maioria dos nossos amigos.
    Por favor continue a defender a nossa língua, de 8 séculos!
    Obrigada!

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    1. Eu continuarei, Malema, porque não posso nem consigo fazer de outra maneira. Mas gostava que fossemos muitos mais a não nos calarmos, nem a ceder.
      No fundo, somos todos responsáveis. E o que me faz confusão é a grande quantidade de "indiferentes". Como se o assunto não fosse pertinente...

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