sexta-feira, 8 de junho de 2012

Ir ou ficar



Durante 22 anos, foi este o meu mundo. Neste lugar vivi muitos momentos bons e maus, conheci pessoas extraordinárias e outras verdadeiramente detestáveis, amadureci pessoal e profissionalmente e, sobretudo, entreguei o meu esforço e empenho na tentativa de ir fazendo mais e melhor em cada dia.
Durante 22 anos, aprendi a dizer "a minha escola" com esse sentimento de pertença relativamente a um lugar e a um projecto que sinto que, de certo modo, também ajudei a construir.
Aqui, gostei de ser professora. O caminho não foi sempre fácil, mas, para mim, que gosto do que é difícil, foi apaixonante. E, como sempre faço, entreguei-me de alma e coração. Eu adoro desafios! Durante 22 anos, mesmo nos dias de maior cansaço ou desânimo, nunca me passou pela cabeça desistir. Esta é uma paixão muito antiga. Desde pequenina sempre gostei dos cadernos e dos livros, sempre gostei de ir à escola e de aprender. Depois passei para o outro lado. E continuei a gostar.
Em todos estes anos conheci muitos alunos, todos diferentes, porque cada aluno e cada grupo é diferente de todos os outros e essa diferença é uma das experiências mais ricas da profissão que escolhi. De alguns gostei muito e de outros não gostei nada, como é próprio destas coisas.  E, no entanto, a todos, foi fantástico vê-los crescer por dentro e por fora, evoluir como alunos e como pessoas e poder ir participando nisso. Estou muito satisfeita com o que fiz e não me arrependo de nada. Tenho a sensação de ter cumprido a minha missão e o meu sonho. A todos os alunos que passaram pela minha sala de aula, espero que alguma coisa de bom lhes tenha ficado também do que lhes  quis ensinar. Gostava, sobretudo, de lhes ter conseguido passar a minha paixão pelas palavras e pelas línguas, a sua importância para compreendermos o mundo e comunicarmos. Gostava que tivessem aprendido que, para conseguir o que quer que seja, temos que lutar e esforçar-nos, até porque as conquistas mais difíceis são também as mais saborosas. E que tivessem também aprendido a fazer tudo bem feito e com paixão, a ser mais exigentes consigo próprios, mais organizados, mais atentos ao que os rodeia, sem perder, nunca, a capacidade de sonhar. Gostava ainda que tivessem aprendido o prazer que a leitura e a escrita nos podem proporcionar e que a cultura também nos ajuda a ser pessoas melhores. E, sem falsa modéstia nem vaidade excessiva, acho que fui conseguindo tudo isso.
Depois, subitamente, tudo mudou. A "minha escola" ficou à deriva e tornou-se  um lugar hostil, sem rumo, sem projecto, onde  aprender e ensinar deixou de ser o mais importante e onde ninguém pode ser feliz. E eu fui-me embora. Longe da escola, mas não da educação, passando para "o outro lado do espelho" e vendo as coisas noutra perspectiva, mais abrangente, mas não menos interessante. Passaram dois anos. No horizonte está um provável regresso à escola. Sinto que, no fundo, é esse o meu lugar e, às vezes, confesso, tenho saudades das aulas e dos alunos. Mas, ao mesmo tempo, não é isso que quero. Porque acho que nunca mais poderá ser a mesma coisa.
Dizem que não se deve voltar ao lugar onde já se foi feliz. Se calhar é isso. É talvez altura de encerrar um ciclo e começar uma nova etapa, noutra escola, que possa de novo sentir  minha e da qual possa voltar a dizer com orgulho "a minha escola".

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