sexta-feira, 4 de março de 2016

Regressar onde se pertence


Não sei se só acontece comigo, ou se ficamos todos para sempre irremediavelmente ligados ao bairro em que crescemos, lugar de pertença, onde mesmo muito anos depois é impossível regressar sem o sentimentos de que ali continua a ser, de certo modo, a nossa casa.
Como explicar, então, a magia e a felicidade de poder voltar a morar perto do que nunca esteve longe, e redescobrir no movimento das ruas, nos passos apressados ou lentos de quem cruzamos, em novas rotinas e errâncias, o encanto de uma cidade que jamais se revela inteira, que muda com o tempo apesar de se manter a mesma, que se multiplica em cores, cheiros, luz e sedução?
Por aquelas voltas da vida que constantemente nos desconcertam e surpreendem, por um conjunto de ditosos acasos, posso em breve morar outra vez no coração da minha cidade, de onde na verdade nunca cheguei a sair, confundindo ainda mais as nossas existências, como acontece com quem se ama.
Voltar a viver no centro de Lisboa, num daqueles bairros típicos onde o antigo e o moderno coexistem em serena harmonia, é um sonho antigo que de repente se tornou real e, por isso, preparo-o com gestos vagarosos e cuidados,  entre a solenidade que associamos aos grandes momentos e a alegria um pouco pueril que têm todos os (re)começos.

(Fotografia de Paulo Abreu e Lima)

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